Quando as notícias da COVID-19 deram conta dos primeiros casos da doença no Brasil, em março de 2020, todos foram tomados pelo pânico e, na melhor das hipóteses, por uma ansiedade e aflição ímpares. As notícias vindas da China e de alguns países europeus eram as piores e mensagens de terror circulavam freneticamente pelas redes sociais, pondo ainda mais combustível na fornalha do desespero. Os meios de comunicação, por sua vez, esforçavam-se para piorar o que já era péssimo: com as pessoas presas em casa e na frente das TVs com o lockdown, despejavam dados sobre internamentos e mortes full time. As programações televisivas abriam espaço de quase duas horas diariamente para o Ministro da Saúde usar politicamente a doença, recomendando aos doentes que só procurassem ajuda médica caso sentissem falta de ar (pasmem, isso existiu!). Mas até então era tudo novidade e ainda estávamos compreendendo todo aquele cenário inédito.
Com o passar de algumas semanas, questionamentos a respeito de um lockdown sem fim começavam a desabrochar – viam-se pessoas enclausuradas sendo infectadas enquanto outras não contraíam a COVID-19 mesmo exercendo atividades externas. Surgia aí a primeira dúvida na pandemia. O trancamento das pessoas em casa também foi objetado por médicos e estudiosos que temiam a queda dos níveis de Vitamina D, a qual é sintetizada através da exposição ao sol e tem papel modulador do sistema imunológico. Já à época saíram as primeiras pesquisas demonstrando que a maioria dos internados com a doença tinham menores taxas dessa vitamina. Não tardou para que as máscaras também fossem questionadas, na medida em que a observação comum do homem médio já tinha o condão de concluir pela ineficácia do adereço e pelo mesmo motivo do lockdown.
As dúvidas persistiram. Rumores a respeito do Paciente Zero ter saído de Wuhan, onde existe um laboratório de pesquisa do mesmo tipo de vírus – coronavírus – logo levantaram a óbvia suspeita de que a COVID-19 poderia ter escapado do mesmo. Algumas figuras políticas, como Donald Trump, chegaram a denominar a COVID-19 de vírus chinês. A despeito da clarividência dessa conclusão, grande imprensa, políticos fisiologistas e militantes ideologizados logo buscaram a desmoralização da tese, intitulando-a racista e xenófoba. Assim, um silogismo lógico como esse foi tratado como ato de preconceito contra chineses. O que dizer dos espanhóis com a Gripe Espanhola que matou muito mais que a COVID—19, tanto em números absolutos quanto relativos?
Porém, um momento pareceu decisivo para compreendermos a subversão que foi feita. Em todos os tempos, sempre houve uma máxima aplicada à medicina, qual seja a da busca pelo tratamento mais precocemente possível. É básico: quanto antes se realizar um diagnóstico e dar início ao tratamento, maiores são as chances de cura! Esse tratamento, entretanto, foi demonizado por muitos médicos, pela grande imprensa e por políticos oportunistas, ávidos por adotarem uma opinião que contrariasse qualquer coisa dita pelo anterior Presidente da República. Foi assim que alguns medicamentos (que mais tarde tiveram sua eficácia comprovada) entraram para o índex de palavras proibidas de serem pronunciadas, quiçá administrados aos pacientes. O termo “tratamento precoce” era imputado como ato político bolsonarista. Veja a que ponto chegaram pessoas da área de saúde – priorizaram a politicagem rasteira, ignorando solenemente as noções mais básicas de… saúde! E que ironia, o mesmo medicamento sempre foi usado por Cuba contra a COVID-19.
Por fim, mas não menos importante, falemos da terapia genética experimental, docemente apelidada de “vacina”. Primeiro esclareçamos o porquê do erro técnico: esses produtos não utilizam o método tradicional da inoculação do próprio vírus (inativado, partido ou atenuado) no organismo, mas sim seu RNA mensageiro, com a função de produzir os anticorpos uma vez no organismo humano. Duas coisas foram relevantes a partir do surgimento das terapias genéticas: a primeira, uma discussão genuinamente científica sobre a necessidade dos convalescentes de infecção pela própria doença serem “vacinados” e a segunda, de aspecto moral, abordando a obrigatoriedade da submissão à terapia.
Mais uma vez deparamos com a negação de princípio bem assentado na medicina: o contato com o vírus e, principalmente, o desenvolvimento da doença geram imunidade duradoura e eficaz. Foi tão impressionante como decepcionante ver médicos, imunologistas, virologistas, infectologistas, biólogos e pesquisadores darem de ombros para um dogma dos mais basilares e pregarem abertamente a imunização universal e indiscriminada da população. Mas o show de horrores não parou aí. Grande parte desses mesmos profissionais citados ainda fez campanha aberta e defendeu entusiasticamente a terapia genética, mesmo sem qualquer garantia de eficácia e segurança, notadamente pelo reduzido n dos próprios estudos prévios. Não só: foram além e repetiram o absurdo em relação às crianças, público cuja mortalidade sempre foi próxima de zero, mesmo nas cepas mais agressivas. E não faltou ainda quem defendesse a obrigatoriedade da submissão ao procedimento, ao arrepio das previsões do item primeiro do Código de Nuremberg e art. 15 do Código Civil, que impedem a obrigatoriedade de sujeição a terapias que impliquem risco de vida.
O que, então, o conservadorismo nos ensinou na pandemia da COVID-19? Tive o cuidado de listar tópicos delimitados em sua cronologia para pontuar, um-a-um, os acontecimentos que sucederam. A postura conservadora não é bolsonarista, conspiracionista, negacionista, anticientífica ou terraplanista, como rotularam os detratores da verdade; ela é sobretudo cética. Criaram uma terminologia falseada, que exprime um contradictio in terminis, chamada consenso científico, algo que, caso existisse, ainda acreditaríamos no Sol girando em torno da Terra e em coisas como azeite e abacate são gorduras prejudiciais às artérias. Ciência é tudo, menos consenso. É com a dialética, envolvendo teses e antíteses, que a ciência avança e evolui. O que vimos durante a pandemia foi a censura, tácita e explícita, de todos os cientistas com opiniões contrárias à corrente hegemônica. Outro mantra entoado no período foi o tal do “acredito na ciência”, como se a ciência dependesse de crença. A crença na ciência produz o cientificismo, uma doutrina cega, tal qual o fanatismo religioso. Os detratores da verdade querem o consenso, porque este, hoje, confirma a sua cosmovisão e o seu ponto de vista, ainda que completamente conspurcados de política e ideologia.
A título de arremate, vemos hoje uma enxurrada de notícias que se sucedem dia após dia corroborando todas as desconfianças dos “negacionistas” e “conspiracionistas”: lockdown e máscaras, ineficazes contra o vírus; a Vitamina D como fundamental para a prevenção de casos graves; a contemplação em definitivo do tratamento precoce como medida imperativa atenuadora de complicações da Covid-19; a quase certeza do escape do vírus do laboratório de Wuhan; e o crescente número de casos de efeitos adversos graves e até mortes provocadas pela inoculação forçada da terapia genética. Para contornar a vergonha que seria admitir que os céticos estavam com a razão, a grande imprensa lança mão de estratagemas vis que intentam um malabarismo argumentativo para distorcer o passado que ajudou a construir com sua sanha difamatória. O ceticismo ínsito ao conservadorismo não é anticientífico; ao reverso: pugna pela cautela, pela prudência e pela validação das hipóteses, que, muitas vezes, só o decurso do tempo pode trazer.