Editorial

Seis pacientes testaram positivo para HIV após receberem órgãos transplantados no Rio de Janeiro. Trata-se de assunto gravíssimo o que aconteceu, que exige apuração e punição severa, ainda que em última instancia, os responsáveis ocupem cargo de confiança no alto escalão do governo federal.

O Médicos pela Vida e todo profissionais de medicina que se prezam devem repudiar o fato. Embora seja considerado algo sem precedentes, poderia ter sido evitado se as medidas de segurança não tivessem sido negligenciadas por quem deveria zelar por elas, preservando Portarias que garantiam a segurança do sistema de transplantes.

Assistimos estarrecidos o Ministério da Saúde dedicar energia a assuntos ideológicos que não dizem respeito à ciência e nem tampouco a saúde pública, menos com a saúde das pessoas. Suas prioridades a propósito são: linguagem neutra, ideologia de gênero, mudança de sexo em crianças, substituição de mãe por “mulher que pariu”, e coisas do gênero, tudo isso para não constranger pessoas que fizeram opções sexuais, ou querem a todo custo a liberação da maconha e o aborto.

Com efeito, os assuntos sérios, sobretudo os que exigem controle e segurança que podem representar danos à saúde física e mental das pessoas, ficaram em segundo plano. As investigações para apurar o que todo mundo ligado a saúde já sabe, precisa ser profunda, sem poupar responsáveis, pois é de relevância nacional e escancara a fragilidade do sistema.

A avaliação rigorosa do estado de saúde de quem doa sangue precisa continuar sendo criteriosa e não pode estar sujeitas a planos ideológicos e opiniões de quem não é do ramo. A transmissão de HIV em transplante põe em risco todo um trabalho de anos, feito por profissionais sérios, comprometidos com a ciência.

O acompanhamento e assistência aos pacientes vítimas desta barbárie precisa ser profunda e permanente, em especial os que receberam transplantes renais. Além de investigação sobre as repercussões futuras da infecção. A cronologia dos eventos clínicos também precisa ser analisada para estabelecer o nexo causal com a vítima que veio a óbito. Não é incomum assistir jornalistas da mídia mainstream, fecharem matéria com o velho jargão: “isso é um caso isolado”. Lamentavelmente, sabemos que podem haver mais vítimas do descaso.

O impacto dessa tragédia não teve o destaque que se espera do bom jornalismo, e põe em risco a credibilidade de todo o sistema de transplantes do Brasil, que até aqui, era respeitado internacionalmente. É necessário seguir à risca os protocolos de segurança, e exigir que uma perícia minuciosa seja feita afim de apontar os culpados, os gargalos, evitando que a contaminação ocorra novamente. Tudo indica para o “vírus” da corrupção. Terá sido mais uma vez o vírus da corrupção o causador desta tragédia?

O Médicos pela Vida lembra ainda que a revogação das Portarias número 3264/22 e 3265/22, feita sob ordens da Ministra da Saúde Nísia Trindade, removeu regras que deveriam ser “imexíveis”, pois garantiam a segurança do Programa de Qualidade de Doação de Órgãos, criado no governo passado.

Isso por que as portarias estabeleciam diretrizes rigorosas de testagem sorológicas de doares, e, inclusive, permitiam monitoramento de falhas. Não custa lembrar que é de conhecimento público a existência de laboratório precário em Nova Iguaçu – RJ, selecionado para realização de exames sorológicos de doadores de órgãos, o que muito provavelmente está relacionado a causa das contaminações dos 6 pacientes vitimados. Tudo isso poderia ter sido evitado se as portarias revogadas estivessem em vigor.

Tratas-se pois, de gestão temerosa por parte do Ministério comandado pela socióloga Nísia Trindade, exigindo que o Parlamento brasileiro, se quiser de fato apurar as causas e evitar que mais pessoas inocentes sejam vítimas do desmantelamento do Ministério da Saúde, abra imediatamente uma CPI para apurar e punir os responsáveis por essa tragédia que deve ser considerada um crime doloso, o que significa que os responsáveis pela revogação das Portarias, assumiram riscos pelos seus atos, o de matar pessoas inocentes.

Médicos pela Vida