Recebemos hoje uma solicitação de Karla Araújo, repórter do Projeto Comprova e do Jornal O Popular. Ela dá um prazo curto. Que precisamos responder hoje, até as 18 horas.

“Faço parte da equipe que está verificando a veracidade do conteúdo divulgado pela deputada federal Bia Kicis nesta postagem: Ela afirma que o maior estudo sobre ivermectina no combate à covid é brasileiro “e prova sem sombra de dúvida que a ivermectina funciona.

O estudo sobre o qual a parlamentar se refere é este, realizado em Itajaí (SC). Este estudo foi tema de uma live realizada pelo Médicos pela Vida. Além disso, o vídeo divulgado na postagem da deputada tem a logo da instituição. No entanto, especialistas consultados pelo Comprova apontam inconsistências no estudo. Um dos argumentos é de que a Prefeitura de Itajaí já divulgou nota de esclarecimento afirmando que a quantidade de pessoas que retiraram a primeira dose do medicamento foi de 138.216. A prefeitura diz que nas semanas seguintes o número caiu. Foram 93.970 doses retiradas 15 dias depois. Apenas 8.312 pessoas retiraram a 4ª e 5ª dose.

Minhas dúvidas são as seguintes:

Qual avaliação o Médicos pela Vida faz do estudo levando em consideração as inconsistências apresentadas?

O Médicos pela Vida tem relação com a elaboração do estudo?

O conteúdo também foi divulgado no Telegram, em um canal que leva o nome desta instituição. O Médicos pela Vida é responsável por este canal?

Peço também autorização para publicar a resposta do Médicos pela Vida a esta demanda em um print na reportagem. O objetivo é que o leitor tenha acesso a todo o conteúdo de apuração”.

Ao Projeto Comprova, fazemos todas as seguintes explicações:

1 – O estudo foi revisado por pares e publicado. Além disso, em um movimento inédito na ciência durante a COVID-19, a pedido de um editorial da BMJ, uma das mais importantes revistas científicas do mundo, clamando por transparência, os autores disponibilizaram para a comunidade científica internacional, desde o dia 6 deste mês, os dados brutos do estudo. Isso é de amplo conhecimento da comunidade e está noticiado, inclusive, em nosso website.

2 – Disponibilizar os dados brutos significa transparência total do estudo. Algo que os autores desejaram e nós aplaudimos. É como dobrar a aposta contra os críticos e abrir as cartas. E estando disponível há tantos dias, sem que ninguém, até agora, tenha apontado erros (sabemos que muitos refizeram os cálculos) e demonstrado, pela matemática, estatística, que o estudo mostra ineficácia, só aumentou nossa confiança na qualidade do estudo e da ciência brasileira.

3 – Portanto, especialistas dizerem que há “inconsistências no estudo” não representa absolutamente nada para a ciência. É opinião. É desejo. É igual as pessoas que possuem a opinião que a terra é plana. Nós, do MPV, defendemos a ciência em fatos, dados e números. Se quiserem dizer que o estudo é inconsistente e não mostra eficácia, que nos provem, usando os dados brutos, via ciência, que os cálculos estão errados.

4 – Deste modo, até que alguém prove, por A + B, que o estudo está errado, o que parece que não ocorrerá, concordamos com o médico norteamericano do vídeo, Dr Pierre Kory, que este estudo é “um dos mais notáveis estudos da história da medicina”. Também concordamos com a deputada Bia Kicis afirmando que o estudo “prova sem sombra de dúvida que a ivermectina funciona”, e concordamos com o professor Harvey Risch, de Yale, que afirmou: “É excelente que tenham divulgado os seus dados de forma anônima. Eles têm verdadeira confiança nos resultados das suas análises.  É assim que a boa ciência é levada a cabo.”

5 – O MPV não possui relação com a elaboração do estudo. Entretanto, nós do MPV ampliamos as vozes da boa ciência, elogiamos estudos bem feitos, divulgamos os resultados e incluímos constantemente em nossos protocolos cada nova resposta da ciência fornece. Neste caso, recomendamos, para profilaxia pré-exposição, a ivermectina.

6 – O estudo de Itajaí usa a técnica PSM (Propensity Score Matching) para fazer sua estatística. Isso é um dos níveis mais altos de evidência científica. Nós, do MPV, pedimos responsabilidade da imprensa e dos “checadores de fatos” com a ciência. Cada vez que colocam alguém semi desqualificado opinando que um estudo PSM com dados transparentes “não prova nada”, e a imprensa repete que é “sem eficácia”, morre gente. Simples assim.

7 – Temos um canal no telegram chamado “Médicos Pela Vida Oficial”. E há esse “Médicos Pela Vida”, que não sabemos quem são. Das postagens deles, concordamos com boa parte. Além disso, eles publicam notícias provenientes de nós e dão links para nossas lives. Os agradecemos por isso. Isso é mais do que necessário quando temos uma imprensa que, por algum motivo, não notícia “um dos mais notáveis estudos da história da medicina” e busca fazer justamente o contrário ao ampliar as vozes anti-ciência, com críticas vazias.