Fundado em 1840, o periódico BMJ – British Medical Journal, é uma das mais influentes, antigas e conceituadas publicações sobre medicina no mundo. Na semana passada, dia 16, eles publicaram um artigo poderoso: “A ilusão da medicina baseada em evidências“.

O artigo foi escrito por Jon Jureidini, da Universidade de Adelaide, da Austrália, e Leemon McHenry, professor emérito da Universidade do Estado da Califórnia, EUA. Os dois autores argumentam como a indústria farmacêutica dominou os órgãos reguladores, as pesquisas e a academia.

“A medicina baseada em evidências foi corrompida por interesses corporativos, regulamentação falha e comercialização da academia, argumentam esses autores”, diz a abertura do artigo.

Eles usam palavras fortes: “A liberação para o domínio público de documentos anteriormente confidenciais da indústria farmacêutica deu à comunidade médica informações valiosas sobre o grau em que os ensaios clínicos patrocinados pela indústria são deturpados. Até que este problema seja corrigido, a medicina baseada em evidências permanecerá uma ilusão”.

Os autores citam o ideal do filósofo Karl Popper sobre uma ciência aberta, democrática e com integridade. “Esse ideal é, no entanto, ameaçado pelas corporações, nas quais os interesses financeiros superam o bem comum. A medicina é amplamente dominada por um pequeno número de grandes empresas farmacêuticas que competem por participação de mercado, mas estão efetivamente unidas em seus esforços para expandir esse mercado”.

Os pesquisadores explicam um conluio entre indústria, governos e universidades gerando mortes. “O progresso científico é frustrado pela propriedade dos dados e do conhecimento porque a indústria suprime os resultados negativos dos ensaios, não relata eventos adversos e não compartilha dados brutos com a comunidade de pesquisa acadêmica. Os pacientes morrem por causa do impacto adverso dos interesses comerciais na agenda de pesquisa, universidades e reguladores”.

O artigo explica que as universidades foram corrompidas pelas indústrias: “Os departamentos universitários tornam-se instrumentos da indústria: por meio do controle da empresa sobre a agenda de pesquisa e do ghostwriting de artigos de revistas médicas e da educação médica continuada, os acadêmicos tornam-se agentes para a promoção de produtos comerciais”.

“Em vez de agir como cientistas independentes e desinteressados ​​e avaliar criticamente o desempenho de um medicamento, eles se tornam o que os executivos de marketing chamam de ‘campeões de produto'”, explicam os autores sobre como os acadêmicos são usados para o marketing.

“Enquanto as universidades falham em corrigir deturpações da ciência de tais colaborações, os críticos da indústria enfrentam rejeições de periódicos, ameaças legais e a potencial destruição de suas carreiras”, explicam os pesquisadores sobre como ocorrem as perseguições aos críticos das indústrias farmacêuticas.

“A preservação de instituições destinadas a promover a objetividade e a imparcialidade científica (isto é, laboratórios públicos, periódicos científicos independentes e congressos) está inteiramente à mercê do poder político e comercial; o interesse adquirido sempre prevalecerá sobre a racionalidade da evidência”, complementaram os pesquisadores sobre como a verdade científica está sendo suprimida.

O artigo explica que os periódicos científicos e governos são corrompidos por interesses escusos. “Os reguladores recebem financiamento da indústria e usam ensaios financiados e realizados pela indústria para aprovar medicamentos, sem, na maioria dos casos, ver os dados brutos. Que confiança temos em um sistema no qual as empresas farmacêuticas podem ‘marcar sua própria lição de casa’ em vez de ter seus produtos testados por especialistas independentes como parte de um sistema regulatório público? É improvável que governos despreocupados e reguladores capturados iniciem as mudanças necessárias para remover completamente a pesquisa da indústria e limpar os modelos de publicação que dependem da receita de reimpressão, publicidade e receita de patrocínio”.

Na sequência, os autores cobram mais transparência. Neste sentido, a publicação dos dados brutos dos estudos é uma necessidade científica.. Um bom exemplo de transparência é o estudo de Itajaí sobre Ivermectina, que teve seus dados brutos publicados recentemente. E até hoje, sem contestação.

Resumo 

A indústria farmacêutica, por lucro, corrompe governos, boa parte dos acadêmicos, periódicos científicos e promove perseguição aos críticos. Isso é tudo que médicos de linha de frente de todo mundo e grupos como o MPV – Médicos pela Vida, têm denunciado há dois anos.

Boa parte da população, ao ver a disparidade, prefere acreditar que a verdade científica está nas instituições governamentais capturadas, na indústria farmacêutica, nos periódicos e nas universidades. A imprensa prefere dar voz a esse conluio achando que é ciência. 

Os que atacam os médicos que tratam pacientes COVID com medicamentos baratos, genéricos e sem patentes, os chamando como “charlatões” ou “negacionistas”, mesmo com esses médicos apresentando números incontestáveis de baixíssima mortalidade, se baseiam em uma ilusão, como os autores do artigo na BMJ definem. Ao mesmo tempo, os que atacam acham que estão defendendo a ciência enquanto morrem sem tratamentos. São apenas vítimas úteis a serviço dos lucros.

Sem dúvida, este artigo da BMJ é para lavar a alma de todos os atacados, difamados e ofendidos durante esta pandemia. A verdade, finalmente, está vindo à tona. 

Previsão para o futuro

E não espere que os “divulgadores científicos” supostamente apaixonados por evidências científicas comentem sobre este artigo nos imensos espaços que ocupam na mídia. 

Você não verá essa bomba nas colunas semanais de Natália Pasternak em “O Globo” ou na revista “Questão de Ciência”.  Você não verá Átila Iamarino explicando detalhes deste artigo para seus mais de 1 milhão de seguidores no twitter.

Vera Magalhães não convidará os autores para um Roda Viva cheio de jornalistas de saúde. O Jornal Nacional não vai convidar algum especialista que explique os detalhes.

José Alencar, autor do livro “Manual de Medicina Baseada em Evidências”, (supostamente tão bom que foi elogiado por Natália Pasternak assim: “O Brasil não está preparado para este livro”) não fará um fio para seus mais de 30 mil seguidores explicando cada implicação apontada neste artigo da BMJ.

Leo Costa, que dá aulas de PBE – Práticas baseadas em Evidências, e que costuma fazer longos vídeos sobre ciência, pseudociência e fatores de impacto de revistas científicas para seus mais de 170 mil seguidores no Instagram, não fará longos comentários explicando todos os detalhes.

Afinal, há uma ilusão que precisa ser mantida viva.

Leia o artigo completo, em inglês, na BMJ.