Vivemos em tempos desafiadores, onde a discussão sobre a obrigatoriedade das vacinas contra a COVID-19 em crianças de 6 meses a 4 anos tornou-se um campo de batalha político no Brasil. Neste cenário turbulento, é crucial que a racionalidade prevaleça sobre paixões políticas, e cabe ao Conselho Federal de Medicina (CFM) colocar a bola no chão e chamar para si o papel de liderança sobre os assuntos médicos, definindo os parâmetros científicos para trazer clareza e racionalidade ao debate.

No início de janeiro, o MPV (Médicos Pela Vida) publicou um editorial convidando médicos a participarem ativamente da pesquisa do CFM, enfatizando a importância de trazer a perspectiva daqueles que estão na linha de frente da saúde. Além disso, em nosso convite, foram oferecidas referências de diversos estudos científicos para enriquecer o debate. No entanto, é preocupante observar que  alguns dos principais veículos de comunicação no Brasil, em tom histérico, criticaram a consulta aos médicos, indicando uma resistência em permitir o debate científico real, insistindo na interdição do debate, e optando claramente por uma narrativa que contém apenas opiniões de pessoas com conflitos de interesses financeiros com as grandes indústrias farmacêuticas e, portanto, interessadas em agradar essas grandes corporações.

O MPV destaca a ironia presente na atitude de alguns setores que alegam a existência de um consenso de especialistas em favor da vacinação obrigatória de crianças contra a COVID-19, mas ao mesmo tempo resistem à realização de consultas que poderiam validá-lo. Afinal, se há consenso, por que temer uma pesquisa para confirmar o tal consenso?

Se a ciência é a base das decisões sobre a obrigatoriedade das vacinas em crianças, então é imperativo que o CFM promova um ambiente onde os médicos e cientistas possam expressar suas opiniões fundamentadas na ciência e realizar o debate científico em busca da verdade.

Nossos editoriais anteriores destacaram exemplos de países como Reino Unido, Dinamarca, Suécia, Alemanha e Suíça, apenas alguns exemplos, que sequer recomendam a vacinação COVID-19 para crianças saudáveis. Esses países, que possuem sistemas de saúde avançados e respeito por suas populações, fundamentam suas decisões em análises científicas cuidadosas, considerando os riscos e benefícios para as faixas etárias em questão. Enquanto isso, aqui, obriga-se para todas as crianças. Ou seja, o consenso científico é exatamente o oposto que alegam ser consenso.

Se o vírus que circula nesses países é exatamente o mesmo que circula no Brasil, se as vacinas de lá são exatamente as mesmas daqui, o único argumento possível para os que defendem a obrigatoriedade seria o delírio de pensar que as crianças brasileiras são mais resistentes a efeitos adversos que as crianças europeias. Apenas dessa forma a conta de risco e benefício seria diferente.

Além disso, a falta de exemplos de países que defendem a obrigatoriedade das vacinas para crianças saudáveis chama a atenção entre os que defendem a obrigatoriedade. É hora do CFM assumir a liderança médica, que é sua por princípio, respaldado por evidências científicas sólidas, e posicionar-se novamente contra a obrigatoriedade da vacinação para esse grupo específico, em linguagem simples e didática para os profissionais da saúde e para a população em geral. 

Dizemos novamente, porque já em agosto de 2021, o Dr Mauro Ribeiro, presidente do CFM na época, em uma entrevista, ao ser questionado sobre a vacinação COVID-19 em jovens e crianças, posicionou-se contra. De lá para cá, apenas se juntaram, aos montes, evidências científicas contrárias, balizando assim as decisões de países sérios da Europa.

A verdadeira coragem está em ouvir os profissionais de saúde e cientistas, em analisar abertamente os dados e em reconhecer que a medicina não deve servir à política. Deve ser algo sem delírios e fanatismos. Portanto, exortamos o CFM a cumprir seu papel crucial na defesa da saúde pública e no respeito à ética médica, contribuindo para a construção de políticas informadas e alinhadas com a realidade das evidências científicas.

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Abaixo, as contribuições publicadas no site do MPV sobre vacinação em jovens e crianças, que não são do grupo de risco da COVID-19.

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