No dia 30 de março foi publicado um estudo sobre a ivermectina em uso ambulatorial, até sete dias de sintomas, no periódico NEJM – New England Journal of Medicine. A pesquisa, que testou a eficácia do medicamento contra a COVID-19, foi feita em Minas Gerais e possui diversos autores, incluindo cientistas brasileiros e internacionais.

Logo após a publicação, o estudo ganhou as manchetes dos principais jornais e portais do mundo. No Brasil não foi diferente.  “Ivermectina não funciona contra Covid, mostra novo estudo do Brasil“, afirmou a Folha de São Paulo. “Ivermectina tem sua ineficácia comprovada mais uma vez contra Covid-19“, foi a manchete do site Olhar Digital.  “A pandemia está passando, mas os negacionistas não dão trégua“, afirmou a manchete da revista a Istoé ao se referir ao estudo. Para eles, o resultado “dá um basta em qualquer falácia de negacionista”.

Dois dias depois da publicação, no dia 1 de abril, o MPV – Médicos Pela Vida, publicou uma análise aprofundada sobre o estudo. “​​Ivermectina ineficaz? Tudo que você precisa saber sobre o estudo publicado na NEJM“.

Era uma análise sobre números do estudo. Na conclusão, afirmamos: “O estudo celebrado como ‘ineficaz’, na verdade, é positivo para a ivermectina, mas sem significância estatística sozinho”. O editorial explicou, em detalhes, que a amostragem era pequena demais para possuir poder estatístico.

Logo após a publicação, tivemos acesso a uma troca de e-mails entre o Dr Edward Mills, diretor do Together Trial, responsável pelo estudo, e o Dr Marc Rendell, professor e Diretor do Centro de Diabetes da Creighton University em Omaha, Nebraska, e diretor da Associação de Investigadores de Diabetes.

Dr Rendell tirava algumas dúvidas sobre detalhes da pesquisa. Dr Mills  respondeu: “Não entendo a psicologia dos defensores do ivermectina. Eles não conseguem ver o positivo neste estudo e apenas se concentram no fato de que ele não é extremamente positivo. Na verdade, eu acho que é bastante positivo”, desabafou.

“Apresentei isto há algumas semanas nas Rodadas de Colaboração NIH e, se eles ouviram, eu defendi que, na verdade, há um sinal claro de que a IVM funciona em pacientes da COVID, apenas que nosso estudo não alcançou significância. Em particular, houve uma redução de 17% nas hospitalizações que seria significativa se fossem adicionados mais pacientes”, comentou Mills.

“Penso que se tivéssemos continuado a randomizar mais algumas centenas de pacientes, provavelmente teria sido significativo”, complementou o pesquisador canadense. Mais detalhes e o e-mail completo, em inglês, pode ser lido no substack de Steve Kirsch.

Conclusão

A análise do MPV estava, novamente, correta. Além disso, o jornalismo feito sobre este estudo foi amador ou de má fé. A manchete correta seria algo assim: “Estudo da ivermectina não atinge significância estatística”. Dizer que é “comprovadamente ineficaz”, como muitos jornais repetem, é irresponsabilidade com a ciência e com os dados. O custo desse amadorismo é em vidas, porque afasta pessoas de tratamentos válidos e eficazes, como demonstrado neste e em diversos outros estudos, de diversos medicamentos.