“Ministério da Saúde incorpora 1º medicamento para tratar covid-19 ao SUS”, era a manchete de duas semanas atrás no jornal Correio Braziliense. “O Ministério da Saúde acatou a decisão da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) e publicou no Diário Oficial da União (DOU) a incorporação do baricitinibe (olumiant) ao Sistema Único de Saúde (SUS) para o tratamento da doença”, afirmou a notícia.
“O medicamento é o primeiro a ser incorporado ao SUS para o tratamento da covid-19. O baricitinibe é indicado para pacientes adultos, hospitalizados e que necessitam de oxigênio por máscara, cateter nasal, ou ventilação não invasiva”, complementou a notícia do jornal de Brasília.
Segundo matéria do UOL noticiando a aprovação, o custo de um tratamento completo do medicamento patenteado da farmacêutica Eli Lilly é de R$ 3 mil. Alguns cálculos chegam até em R$ 6,5 mil. Além disso, o baricitinibe é um medicamento reposicionado, assim como a hidroxicloroquina, anteriormente utilizado para artrite reumatoide.
“Existem medicamentos e procedimentos com proposta de reposicionamento com mecanismos de ação semelhantes considerando a atuação na tempestade de citocinas, com custo infinitamente mais baixo”, afirma a Dra Emilia Serra em uma recente análise da aprovação. Ela dá como um dos exemplos a ivermectina, um medicamento barato, genérico e sem patentes.
Ao explicar que o mecanismo de ação é próximo, Dra Emilia cita um estudo publicado no periódico científico The Journal of Antibiotics.
“É um medicamento com potencial, embora o número de mortes evitadas não seja excelente. No entanto, existem opções terapêuticas mais seguras e com custo mais baixo”, afirmou a Dra Emilia sobre o baricitinibe.
Em sua análise, a Dra Emilia separou trechos preocupantes da recomendação da Conitec: “A qualidade das evidências apresentadas nas RS (revisão sistemática) foram de criticamente baixa a moderada”. Além disso, a própria Conitec diz que em relação a desfechos, a atuação do medicamento “apresentou algumas preocupações”.
Preocupações com efeitos colaterais também estão na análise. “O número de pacientes analisados é pequeno se considerarmos a possível aplicação em toda a população potencialmente beneficiada, em especial pelo risco de eventos adversos”.
“A ivermectina age com os mesmos mecanismos de ação e é bem mais barata. E o mais importante: segura e praticamente sem efeitos colaterais”, afirmou.
Em defesa do SUS
A imensa maioria dos membros do MPV – Médicos pela Vida, entende que o SUS é essencial para a saúde de todos os brasileiros. Entretanto, a ameaça é que o serviço se torne cada dia mais sucateado devido as verbas serem direcionadas, cada vez mais, às grandes corporações e seus medicamentos patenteados. Além da ivermectina, há diversos outros tratamentos válidos, com diversos níveis de evidência científicas, incluindo a fluvoxamina, com uma meta-análise, o mais alto grau de evidência científica, publicada recentemente no periódico JAMA.
Esta meta-análise é feita, inclusive, apenas baseada em RCTs ( Estudos controlados e randomizados). São os estudos “padrão ouro”. E são publicados em revistas de impacto, como a Lancet. O que mais falta?
Ou seja, da Fluvoxamina temos o mais alto nível de evidência científica, em periódico de alto impacto, feito sobre estudos randomizados, duplo cego, também publicados em revista de impacto. Isso é evidência muito maior que o baricitinibe. Quando vai acabar essa mentira insana de falar que “não existem evidências científicas” para medicamentos sem patentes? Chega! Já lucraram o suficiente. Parem de deixar os brasileiros morrerem.
Mais dos mesmos absurdos: baricitinibe é para pacientes hospitalizados. A fluvoxamina é para pacientes ambulatoriais. “Vai continuar não tratando os pacientes da fase inicial da doença? A proposta é continuar esperando para que eles tenham que internar para dar este medicamento caro?”, questionou o Dr Carlos Nigro.
Tudo ocorre sob o olhar omisso da ANVISA, que não puxa para si o tamanho da responsabilidade sanitária que lhe cabe, de ir atrás dos estudos científicos que comprovem a eficácia e segurança dos medicamentos que possam ser aproveitados, reposicionados ou mesmo novos. A postura é a de quem fica esperando ser procurado para se manifestar mediante apresentação de “papel”, mesmo sem comprovação científica independente, como acontece até hoje. Percebemos uma postura burocrática, passiva, de “se me procurarem, me manifesto, se não, não tenho nada a ver com isso”. Será? Mesmo na excepcionalidade da pandemia a postura não mudou. “Consideramos que a Anvisa deva ter atitude, ser proativa, correr atrás do interesse dos brasileiros, e jamais abandoná-los. Defender os interesses dos cidadãos e do país. Precisa ser grande para o Brasil”, considera o Dr Antônio Jordão, coordenador do MPV.
Tudo isso nos faz perguntar: o problema seria exatamente por ser o tratamento precoce realizado com medicamentos genéricos, baratos e sem patentes? Talvez a resposta seja a da Dra Emilia: “A Eli Lilly do Brasil Ltda agradece”, ironizou ao comentar a aprovação do baricitinibe.
Faça o Download da análise completa feita pela Dra Maria Emilia.