Editorial: Ciência ou Pfizer? As omissões inconvenientes da Sociedade Paranaense de Pediatria

A sentença do Paraná não é um ataque à imunização, mas um freio à arrogância de um governo que teima em desprezar a prudência internacional.
Foto: Rovena Rosa/AB

A decisão histórica do Judiciário paranaense, que derrubou a obrigatoriedade de vacinas contra COVID-19 para crianças menores de 5 anos ao reconhecer seu caráter experimental, desnudou uma verdade incômoda: o Brasil transformou-se em um laboratório forçado, isolado do mundo. Diante disso, a Sociedade Paranaense de Pediatria (SPP) emitiu uma nota técnica que, longe de rebater os fatos, expõe o abismo entre a retórica e a prática científica. Lemos atentamente o documento, esperando um único argumento que justificasse o país ser o único no planeta a impor essa vacinação a crianças tão jovens. Não encontramos.

Enquanto o Brasil insiste na obrigatoriedade, nações como Alemanha, Dinamarca, Suécia, Reino Unido, Suíça e Japão, apenas para citar alguns exemplos, sequer recomendam a questionável injeção para crianças saudáveis. Recomendam apenas para crianças muito doentes, depois de um exame médico rigoroso. O motivo é cristalino e fundamentado em evidências científicas: os riscos superam os benefícios. O estudo publicado no British Medical Journal (2022), liderado pelo Dr. Vinay Prasad (Universidade da Califórnia), demonstrou que, para crianças e jovens sem comorbidades, os potenciais efeitos adversos não compensam os ganhos mínimos. O recuo mundial foi tão contundente que o ministro da Saúde dinamarquês, Soren Brostrom, publicamente pediu desculpas por um dia as autoridades terem apenas recomendado: “As vacinas não foram predominantemente recomendadas para o bem da criança, mas para garantir o controle da pandemia”. Nos EUA, onde a liberdade e responsabilidade dos pais prevalece, apenas 6,4% das crianças dessa faixa etária foram vacinadas — e até as recomendações oficiais foram abandonadas.

Diante desse cenário global, a SPP teria de provar que o Brasil habita uma realidade paralela. Ou o vírus SARS-CoV-2 é radicalmente mais letal aqui do que em Berlim ou Estocolmo, exigindo medidas extremas. Ou nossas crianças são biologicamente distintas das europeias e americanas, supostamente mais resistentes aos efeitos adversos dessas vacinas. Só assim o cálculo risco-benefício justificaria a excepcionalidade brasileira. Mas essa tese é um delírio. Não há estudos que comprovem singularidades epidemiológicas ou genéticas que inverteriam a lógica adotada pelo resto do mundo desenvolvido. A “nota técnica”, ao ignorar solenemente essa comparação internacional, reduz-se a um discurso retórico de autoengano ou de propaganda.

É grotesco ler, em meio a tantas omissões, a SPP declarar-se “a favor da ciência” e citar um “consenso médico-científico”. Que ciência? Aquela que despreza o consenso global? Que se recusa a explicar por que o Brasil insiste em uma política rejeitada por todos os outros países? Omissão, em saúde pública, é negligência. Calar-se sobre o fato de sermos os únicos a obrigar crianças a um tratamento considerado experimental pela Justiça — com base em documentos das próprias fabricantes — é antiético. Ciência séria confronta dados, não os esconde.

Resta questionar o que motiva tamanha cegueira seletiva. Não podemos ignorar que a SPP, em eventos, como seu recente I Simpósio Paranaense de Imunizações, em 2024, foi patrocinada por gigantes farmacêuticas, entre elas a Pfizer (link, archive, link e archive) — fabricante das vacinas em questão e interessada direta na ampliação compulsória de mercados. Seria ingênuo supor que tais laços não gerem conflitos de interesse, ainda que velados. Quando instituições médicas alinham-se a corporações, a defesa da “ciência” transforma-se em propaganda e comércio. Além disso, em 2025, a Pfizer, entre outras gigantes internacionais, divididos entre Patrocínio Platinum, Patrocínio Master e Patrocínio Standard, novamente não falhou em seu apoio à SPP.

A nota da SPP se assemelha àqueles cantores de bares ruins que vendem seus shows de músicas em inglês. Eles contam com a ignorância da platéia para que não reparem em seu “embromation”. A referência de meta-análise que citam, da Cochrane, não é predominantemente sobre vacinas COVID-19 em crianças.

A sentença do Paraná não é um ataque à imunização, mas um freio à arrogância de um governo que teima em desprezar a prudência internacional. Enquanto a SPP repete chavões sobre “evidências de alto nível”, países sérios priorizam o princípio da precaução: nenhuma intervenção médica deve ser imposta sem benefícios claros para as pessoas — especialmente quando os dados globais gritam contra ela. Trata-se de respeito à vida.

Que não se tente, agora, silenciar esse debate com frases feitas. O tempo da imposição sem questionamento acabou. E que fique claro: ciência sem honestidade é apenas logotipos no jaleco.

— MPV, em defesa da verdade que o Brasil insiste em não enxergar.


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Redação MPV

Equipe de jornalismo do MPV - Médicos Pela Vida, uma associação médica com milhares de associados que se notabilizou no atendimento da linha de frente da COVID-19.

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