Editorial: passaporte vacinal é estratégia errada

Neste momento há um assunto em discussão no mundo todo. É sobre a implantação de passaportes vacinais. Possui vários aspectos a serem observados e aqui, neste editorial, faremos isso. A medida já está em discussão no congresso nacional. Ao mesmo tempo, alguns países já se posicionaram e tomaram suas decisões.

Nos EUA, a Casa Branca descartou a introdução de passaportes obrigatórios de vacinação para Covid-19. A principal alegação é que a privacidade e os direitos dos cidadãos devem ser protegidos. A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse que não haveria um “banco de dados federal de vacinações”.

“A privacidade e os direitos dos americanos devem ser protegidos, para que esses sistemas não sejam usados contra as pessoas de forma injusta” afirmou Psaki.

Entretanto, nos EUA, ainda há poderes para cada estado decidir e implementar as medidas que forem consideradas necessárias. No Texas, o governador Greg Abbott emitiu uma Ordem Executiva proibindo agências estaduais de criar requisitos de vacinas para que os cidadãos recebam serviços governamentais. Além disso, proibiu o estado de solicitar o status de vacinação dos cidadãos.

“Todos os dias, os texanos estão retornando à vida normal à medida que mais pessoas recebem a vacina COVID-19 segura e eficaz. Mas, como eu disse o tempo todo, essas vacinas são sempre voluntárias e nunca forçadas”, afirmou Abbott. “Continuaremos a vacinar os texanos e vamos proteger a saúde pública — e faremos isso sem pisar nas liberdades pessoais dos texanos”.

No estado da Flórida, o governador DeSantis também alegou liberdades individuais para se posicionar contra. “É totalmente inaceitável que o governo ou o setor privado imponham a exigência de que você mostre a prova da vacina para simplesmente participar da sociedade de modo normal”, afirmou.

O estado de Illinois também se posicionou: não exigirá os passaportes, segundo o governador Pritzker.

Na Califórnia a polêmica é maior. Mesmo com o governador Gavin Newsom afirmando que “não há mandato, nem exigência, nem passaporte”, o estado autoriza que eventos fechados com mais de 5 mil pessoas possam verificar o status da vacinação.

Na União Européia, o parlamento já decidiu pela aprovação. O certificado digital será emitido nos 27 países-membros, segundo notícia publicada pela Deutsche Welle. O texto informa que o objetivo é facilitar viagens e impulsionar o turismo. No entanto, há preocupações: “Os membros do Parlamento Europeu destacaram a importância da não discriminação, afirmando que os certificados devem facilitar as viagens, mas não ser uma forma de exigir que as pessoas se vacinem”, afirma a notícia da TV alemã.

A Grã Bretanha decidiu contra. “Acabou”, informa o Daily Mail. “Você não precisa mostrar um comprovante de vacinação para participar de reuniões”, escreve o jornal.

Por outro lado, o presidente das Filipinas, que já elogiou Adolf Hitler e afirmou que “enquanto houver mulheres bonitas, haverá estupro”, posicionou-se, de forma enérgica, a favor. “Você escolhe a vacina ou eu o colocarei na cadeia”, disse Rodrigo Duterte.

Ser contra o passaporte vacinal não é ser antivacina

O movimento MPV — Médicos Pela Vida, posiciona-se contra o projeto no congresso, já aprovado pelo senado e que segue em tramitação.

“As vacinas são um dos grandes instrumentos de promoção de saúde pública. Trouxeram grandes benefícios para a humanidade. Erradicaram a varíola, preveniram o tétano, a raiva, controlaram a poliomielite e várias doenças infecciosas prevalentes na infância. No geral, previnem doenças e promovem a saúde”, afirma o Dr Antonio Jordão, coordenador do MPV.

“No entanto, vacinas para serem boas, precisam de tempo de uso, a maioria em torno de 10 anos, em várias fases de testes que as considerem eficazes e seguras”, prosseguiu.

“Porque nem toda vacina é boa. A vacina contra outro coronavírus (o da MERS) teve que ser retirada do mercado por causar mais malefícios que a própria doença. A vacina contra o HPV tem um saldo indesejável de sequelas neurológicas. E a vacina contra a AIDS até hoje não foi possível. A AIDS é tratada e controlada exitosamente com coquetéis de medicamentos.”

Jordão, além de externar preocupações com liberdades individuais e direitos fundamentais, faz considerações técnicas sobre uma possível coerção que a lei pode gerar enquanto ainda há definições científicas ocorrendo. “Temos que ter preocupação inclusive com o uso em populações que não foram testadas”.

“A população precisa ser alertada de todas as formas sobre o uso experimental, e cada pessoa precisa ler a bula e saber o conteúdo de tudo que está sendo injetado em seu corpo, e aí decidir se assina o necessário termo de consentimento, autorizando a picada”, afirmou.

O coordenador do MPV se refere a casos como a mudança de orientação sobre a aplicação da AstraZeneca em mulheres grávidas, ocorrida em maio no Brasil. O imunizante não foi testado em gestantes na fase de pesquisa. Também houve a suspensão temporária, da mesma vacina, ocorrida em diversos países europeus, como a Itália e França, enquanto anomalias eram apuradas. “Como vamos criar uma coerção, atropelar as liberdades, a privacidade, se o cenário ainda se desenvolve e a segurança ainda é estabelecida?”, questiona Jordão.

Por que, no Brasil, a coerção é uma estratégia errada?

O site Our World in Data, a referência mundial de dados para a COVID-19, informa que o Japão, um país muito mais rico e menor que o Brasil, possuía, em 4 de julho, apenas 25% de sua população vacinada com pelo menos uma dose, enquanto o Brasil já chegou em 36,53%.

Isso não é resultado de uma possível falta de vontade dos governantes japoneses, mas pode ter sido pelos resultados de dois estudos recentes. Um publicado na BMJ neste ano, e outro, do ano passado, publicado na The Lancet. Ambos explicam que os japoneses possuem uma baixa taxa de confiança nas vacinas.

No Brasil é diferente. Aqui, a coerção possui tudo para dar errado. “A obrigatoriedade me parece uma questão de querer impor autoridade mais do que uma questão de saúde pública. O Brasil será um dos dez países com maior cobertura vacinal até o fim do ano, se não for o primeiro. Os brasileiros têm um histórico de adesão à vacinação muito superior a países de primeiro mundo. Não faz sentido obrigar quem já quer tomar. Teremos cobertura de primeira dose acima de 90% entre adultos acima de 40 anos. Poucos países chegaram nesse valor”, explica Marcio Watanabe, professor de estatística da Universidade Federal Fluminense.

 

Watanabe demonstra preocupação: “A obrigatoriedade vai gerar uma hesitação vacinal bem maior”.

Desinformação oficial aumenta hesitação

Até médicos que militam nas redes sociais contra os tratamentos precoces, o contrário do defendido pelo Médicos Pela Vida, e fazem as críticas aos tratamentos usando argumentos como “é preprint” ou de que alguns estudos foram publicados em revistas de “baixo impacto”, mas que defendiam as vacinas mesmo sem preprint ou revisão por pares, e apenas por apresentações powerpoint, como no caso da Corona Vac, já estão se posicionado contra as incoerências, já apontadas pelo MPV, tanto da mídia, como em órgão oficiais.

 

É o caso da declaração do médico Bruno Filardi sobre o anúncio do Butantã de que a Coronavac seria a mais eficiente de todas as vacinas. Ele acusa falta de transparência.

Governador mal assessorado espalhou desinformação. Isso gera desconfiança.

O comitê científico do Médicos Pela Vida tem se aprofundado, diariamente, em absolutamente todos os estudos de tratamentos para a COVID-19, de todos os medicamentos. Um dos assuntos técnicos envolve as estatísticas de cada estudo: a possibilidade de cada resultado obtido ter ocorrido ao acaso. O nome técnico é p-valor.

Apesar de não ser o melhor método para avaliar medidas de efeito (quanto mais para usar afirmativas), o p valor cumpre seu papel razoavelmente bem. Em geral, quanto menor o p valor, maior a probabilidade do resultado ter sido por efeito do medicamento (ou vacina) e menor a possibilidade de ter sido ao acaso.

Quando houve a divulgação do estudo da Coronavac, o governador de São Paulo, João Dória, afirmou que a vacina era 100% eficaz para casos graves, algo que não se comprovou no mundo real, como era de se esperar.

Esse amadorismo descomunal, algo que não ocorre no MPV, foi divulgado, surpreendentemente, pelo próprio e respeitável Instituto Butantan. Logo foi repetido por Dória, reproduzido pela imprensa e por divulgadores científicos incompetentes, além de reproduzido por outras entidades sem a capacidade técnica de análise de estudos que o Médicos pela Vida possui, como o Conselho Federal de Farmácia, que reproduziu em seu site a notícia sem nenhuma consideração.

Tal afirmação não foi somente assustadoramente errada, e muito provavelmente gerada por má fé, mas também pode ter sido causa de inúmeras mortes, uma vez que levou pessoas ao relaxamento devido à confiança na eficácia da vacina.

Na prática, a imprensa tratou o p= 0.49 da Coronavac como 100% eficaz. E insistentemente trata os estudos de tratamentos de modo distinto. Como o caso do estudo randomizado e duplo cego de Skipper, da hidroxicloroquina em tratamento precoce.

A estatística do estudo da HCQ de Skipper mostrou um p-valor de 0.29. Um valor muito mais favorável à eficácia do que o p-valor da Coronavac. No caso, os jornais tratam a estatística da HCQ, mais confiável com um jargão criminoso: “comprovadamente ineficaz”, e a da vacina, em casos graves, de modo elogioso.

 

Isso representa uma distorção no que é conhecido como MBE – Medicina Baseada em Evidências, a bússola da medicina.

O posicionamento dos Médicos Pela Vida

“Para todo problema complexo existe sempre uma solução simples, elegante e completamente errada”, dizia a genial frase do jornalista norteamericano H. L. Menken.

É o caso do “passaporte sanitário”, ou “passaporte vacinal”, em tramitação no congresso brasileiro, a ser decidido por uma “canetada”, sendo que os congressistas estão sob influência de divulgadores científicos incompetentes, jornalistas desinformados e cientistas fracassados que se tornaram youtubers.

O movimento Médicos Pela Vida posta-se contra tal “passaporte” ou qualquer outra forma indireta de imposição.. E ressalta que ainda há incerteza sobre se a vacinação evita transmissão, o que derruba o último argumento que parecia válido, mas não é.

Como no caso dos tratamentos, que o MPV entende como complementar à necessidade de vacinação para controle da pandemia, nossa entidade defende, como princípio norteador, a liberdade de todos os médicos brasileiros em avaliar o risco e benefício de prescrever a vacinação em cada paciente, ao mesmo tempo em que os dados de segurança ainda estão sendo definidos. Nós reafirmamos: a clínica é soberana. E o corpo de cada pessoa é inviolável.

O movimento Médicos Pela Vida, demanda, no mínimo, um amplo debate científico, sério, técnico e adulto, sobre o passaporte vacinal. Debates científicos são o que, infelizmente, não tem ocorrido no Brasil. Pelo contrário, existe uma tentativa de mordaça, como o que ocorreu quando alguns senadores resolveram se ausentar e tentaram calar o debate, no senado federal, sobre tratamentos precoces, proposto pelos respeitáveis médicos e cientistas, com milhares de pacientes tratados com sucesso e inúmeros papers publicados sobre a COVID-19, Francisco Cardoso e Ricardo Ariel Zimermann. 

Um vexame histérico e negacionista que não pode se repetir agora.

Há a necessidade de deixarmos claro: a ciência, que vem sendo desrespeitosamente tratada como dogma, não aceita desaforo.

MPV — Médicos Pela Vida

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