A prefeitura de Chapecó, cidade com 227 mil habitantes no interior de Santa Catarina, divulgou nesta última quarta-feira os resultados de seu programa de tratamento precoce contra a COVID-19. A cidade, em um grande esforço de combate à doença, montou um ambulatório especializado no combate à pandemia. O projeto teve início em janeiro de 2021, logo após o prefeito João Rodrigues assumir a administração do município.

O levantamento dos dados e análise dos resultados ficou a cargo de pesquisadores da UNOESC – Universidade do Oeste de Santa Catarina, uma das mais conceituadas da região sul do Brasil e bastante presente no estado. A pesquisa foi coordenada pela professora Marcieli Maccari, diretora de Pesquisa, Pós Graduação e Extensão da UNOESC.

A análise foi feita através dos prontuários médicos digitais de 13.156 pacientes que buscaram atendimento para a COVID-19 entre o início de janeiro de 2021 até 18 de outubro do mesmo ano, que inclui o período em que houve predomínio da variante Gamma (P.1), a cepa que causou a doença mais grave registrada até aqui. Foi levado em consideração o principal desfecho: a mortalidade. Na estatística, os pacientes considerados como tratados são os que receberam qualquer um dos seguintes medicamentos: cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina, vitamina D, antibióticos ou corticosteróides, tanto de modo isolado, em monoterapia, como em conjunto.

Resultados

Dos 5.151 pacientes tratados, 73 morreram. Taxa de letalidade: 1,42%.

Entre os 8.005 pacientes não tratados, 273 morreram. Taxa de letalidade: 3,41%.

Houve, portanto, uma redução no risco de morrer de 58,4% entre os tratados.

Resultado dentro da média

Entre os 15 estudos com hidroxicloroquina em tratamento precoce (até 5 dias de sintomas), a média de redução de mortalidade é de 72%. Já nos estudos da ivermectina na mesma condição, a média de redução é de 43%.

Médicos estudaram

Na coordenação médica e científica do Ambulatório COVID-19 Tratamento Imediato “Verdão”, estava o Dr Diego Leonardo Bet. Ele informa que houve autonomia e nenhum médico foi obrigado a prescrever qualquer medicação. Entretanto, houve um processo de educação continuada sobre as últimas evidências, contando com professores renomados e reuniões clínicas onde compartilhavam conhecimentos e discutiam casos. “Nós fizemos um esquema de educação médica que permitiu a cada um se sentir mais seguro, mais confiante para prescrever aquilo que achasse melhor para seu paciente. Então ninguém foi obrigado a fazer nenhum tratamento”, afirmou. 

“As medicações colocadas à disposição são todas as medicações que já haviam estudos científicos publicados com evidências de que poderiam funcionar”, afirmou. “Imprimimos centenas de artigos e os deixamos à disposição no ambulatório”.

Durante o programa, a prefeitura forneceu os medicamentos de forma gratuita e os pacientes, logo após o teste rápido e atendimento médico, já recebiam o tratamento. Na sequência, cada paciente com Covid era acompanhado pela equipe de enfermagem à distância, por telefone e whatsapp. Essa equipe orientava reavaliação no caso de detectar algum sinal de alerta ou piora. Além disso, Chapecó não mediu esforços em melhorar os serviços médicos. “O ambulatório evoluiu ao longo do tempo. Recebeu exames laboratoriais que eram coletados lá, recebeu PCR e exames de sangue, recebeu até outros recursos como eletrocardiograma, tudo que foi necessário para que ele funcionasse da maneira mais adequada”, afirmou.

Dr Diego comentou que a equipe estava motivada no processo de acolher, atender, testar, medicar e acompanhar os pacientes. ‘Na minha opinião fez a diferença”, afirmou.

8.005 pessoas não foram tratadas

A guerra contra todas as possibilidades de tratamentos com medicamentos baratos, genéricos e sem patentes, além da politização da ciência, gerou o afastamento de 8.005 pessoas de tratamentos válidos. “Entre os três ambulatórios de campanha, apenas um tinha claramente o objetivo de tratamento imediato, porque não era unanimidade entre os médicos do sistema público”, afirmou Dr Diego.

“Meu trabalho foi reunir, ajudar a capacitar e dar suporte técnico-científico aos médicos que eram abertos, simpáticos ao tratamento, porque queriam auxiliar mas não tinham confiança e nem apoio para fazer. Sozinhos eram ridicularizados e estigmatizados”, explicou. “Atendi muitos pacientes que pelo estigma tive muito trabalho pra convencer de que era importante fazer o tratamento”, complementou.

Entre os 8.005 pacientes não tratados, 273 morreram. Seguindo a mesma proporção de mortos entre os tratados, se eles tivessem recebido as medicações, entre esses 8.005, seriam apenas 113 óbitos em vez de 273. Ou seja, hoje 160 pessoas da cidade estariam vivas.

O prefeito João Rodrigues elogiou a coragem dos médicos que mesmo achincalhados enfrentaram a pandemia tratando a COVID-19. “Nós não abrimos mão de darmos liberdade para os médicos, mas tivemos um grupo de heróis aí no meio que tiveram a coragem de se unir, pesquisar, mesmo muitos não sendo especialistas na área específica, mas estudaram”.

Chapecó foi ironizada no “dia da mentira”

O biólogo e influencer digital Atila Iamarino, com mais 1 milhão de seguidores no twitter e figura constante em programas de entrevistas, que depois de famoso durante a pandemia chegou até a ser garoto propaganda e estrelar anúncios do TSE – Tribunal Superior Eleitoral, justo sobre notícias falsas, chegou a ironizar o programa de tratamento em Chapecó no dia 1º de abril. Para ele, aquele dia era dia “de tratamento precoce salvando a Índia, Bauru, Rancho Queimado e Chapecó”.

Entretanto, Iamarino apostou errado: “Aqui está a prova se alguém tinha dúvida se tratar ou não tratar dá resultado. Não é a prefeitura que está dizendo. São os prontuários médicos. A UNOESC não inventou nada”, afirmou o prefeito Rodrigues.

“É bom ressaltar aos que estão aqui, que nos acompanham, de que no momento em que se fazia isso, os médicos eram atacados. Os ataques vieram de vários lugares do país, principalmente de uma mídia tendenciosa, que desqualificava o trabalho daqueles que se esforçavam em salvar vidas”.

“Qual é o número que eles tem que provam que eles estavam certos? Não tem. Agora nós temos um número que prova”, desabafou.  “Não é qualquer numerozinho. Não é margem de erro. Não é ‘pode ser’. Não é coincidência. Aí está o resultado do tratamento imediato”.

Prezando pela transparência, Rodrigues afirmou que disponibiliza os dados brutos para a imprensa e a comunidade científica. “São números reais que estão à disposição para serem auferidos a qualquer momento”, afirmou. “Desafiamos a qualquer um que seja que pesquise os números de Chapecó para nos dizer que deu errado”.

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