A Ministra da Saúde, Nísia Trindade, esteve, nesta terça-feira, na Câmara dos Deputados, em sessão da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle, para falar especialmente sobre a vacinação infantil contra COVID-19.

A intenção do governo é tornar a vacina obrigatória para crianças a partir de 6 meses até 5 anos de idade. Alguns deputados indagaram a Nísia sobre as diferenças nas recomendações ou obrigações de vacinas no Brasil e em outros países. Um dos exemplos foi a Dinamarca, um país europeu que sequer recomenda vacinas COVID-19 para crianças.

O que disse Nísia?

“E eu quero, aqui, reafirmar o que eu disse. Não é verdade que a Dinamarca proibiu, retirou, a vacinação de COVID. Ela fez um critério de priorização das vacinas”, afirmou. (Vídeo no youtube já em 1h49:38, no momento exato da fala)

Como vamos checar

A primeira coisa que vamos checar é a página do ministério da saúde da Dinamarca. São as recomendações desde o início de outubro de 2023 até 15 de janeiro de 2024.

Fonte: Danish Health Authority – 1 October 2023 – 15 January 2024 (arquivo)

Print da página do governo da Dinamarca com todas as informações.

Na Dinamarca, quem possui recomendação?
Para vacinas COVID ou de gripe, as autoridades explicam: “O risco de ficar gravemente doente devido à gripe e à COVID-19 aumenta com a idade. Portanto, todas as pessoas com 65 anos ou mais recebem vacinas contra ambas as doenças”, afirma o site do Ministério da Saúde da Dinamarca.

Há exceções para menores de 65 anos?
Sim, há exceções para a vacinação em menores de 65 anos. Essas exceções abrangem pessoas que enfrentam condições específicas de saúde, tais como doença pulmonar crônica, diabetes tipo 1 e 2, imunodeficiência congênita ou adquirida, doença hepática ou renal crônica, obesidade, entre outras situações.

Possibilidade para menores de 18 anos?
Menores de 18 anos podem ser vacinados contra a COVID-19 após avaliação médica do pediatra, informa o documento oficial. Ou seja, apenas com recomendação e receita médica.

Crianças saudáveis possuem recomendação?
Não. Sequer recomenda, muito menos obriga.

Sequência da checagem

Vamos voltar à frase da Ministra: “E eu quero, aqui, reafirmar o que eu disse. Não é verdade que a Dinamarca proibiu, retirou, a vacinação de COVID. Ela fez um critério de priorização das vacinas”, afirmou Nísia.

De fato, a Dinamarca não proibiu ou retirou a vacinação de COVID, mantendo apenas para um grupo restrito, sem ser vacinação geral: maiores de 65 anos ou pessoas com comorbidades. Em menores de idade, as regras são ainda mais rígidas, sendo apenas possível após recomendação de médico pediatra e com receita médica.

Entretanto, a reunião era para discutir a inclusão das vacinas para crianças no PNI (Programa Nacional de Imunizações) e, portanto, o foco era a comparação das recomendações para crianças, não em grupos de risco.

Argumento da priorização

A Ministra, em seu depoimento, afirmou que a Dinamarca “fez um critério de priorização das vacinas”. Este argumento traz à memória o início da campanha de vacinação geral, onde, por existirem poucas vacinas, a prioridade era nos grupos de risco, com as idades abaixando a partir do momento em que novos lotes dos produtos farmacêuticos eram adquiridos.

Entretanto, no caso, não há mais escassez do produto. O ministro da saúde da Dinamarca, Soren Brostrom, em junho de 2022, chegou a pedir desculpas para a população por, no começo da campanha, ter recomendado vacinas COVID-19 para menores de 16 anos: “As vacinas não foram predominantemente recomendadas para o bem da criança, mas para garantir o controle da pandemia”, afirmou.

Ou seja, não há recomendação pelos danos das vacinas superarem, em muito, os benefícios, como apontado em diversos estudos, como o feito pela equipe da Universidade da Califórnia.

Além disso, não é uma questão de impossibilidade de adquirir vacinas por ser um país pobre, necessitando gerenciar escassez. No caso, a Dinamarca possui um PIB per capita de 61 mil dólares e o Brasil um PIB per capita de pouco mais de 8,4 mil dólares. Ou seja, a Dinamarca é pouco mais de sete vezes mais rica que o Brasil.

Conclusão

A Ministra da Saúde, Nísia Trindade, se equivocou sobre a vacinação contra a COVID-19 na Dinamarca.

A abordagem não deve ser imposta por opinião, achismo ou imposição da posição de poder, mas em fatos, estudos científicos ou dados publicados nos sites oficiais dos ministérios de saúde dos países.

Abaixo, leia mais comparações das políticas de vacinação do Brasil com Suíça, Alemanha, Suécia e Reino Unido.

Fonte: Danish Health Authority – 1 October 2023 – 15 January 2024 (arquivo)

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