Uma nova meta-análise revisada por pares e publicada já em 2023 no periódico científico Pharmaceuticals, de alto prestígio, concluiu que a utilização de vitamina D contra a COVID-19 resulta em uma significativa redução no risco de agravamento. “Administração de vitamina D resulta em um risco reduzido de internação na UTI”, escreveram os autores.
A meta-análise, o mais alto nível de evidência científica, incluiu cinco estudos randomizados, considerados o “padrão ouro” na avaliação de tratamentos médicos. Todos os estudos incluíram indivíduos hospitalizados com COVID-19 e mediram a redução de ida para a UTI e a redução de mortes. Os resultados mostraram que o risco de internação na UTI foi 72% menor.
“A análise sequencial de ensaios (TSA) do papel protetor da vitamina D e da internação em UTI mostrou que, uma vez que o agrupamento dos estudos atingiu um tamanho de amostra definitivo, a associação positiva é conclusiva”, concluíram os cientistas.
Gráfico do estudo
Explicação sobre o gráfico
Todos os cinco estudos ficam à esquerda da barra vertical, mostrando que em todos eles, os pacientes que tomaram vitamina D se saíram melhor nos desfechos medidos. Entretanto, alguns dos estudos poderiam ter sido positivos “ao acaso”, com a “margem de erro” cruzando a linha vertical. Algo equivalente às notícias de pesquisas eleitorais com “empatados no limite da margem de erro”. Na soma total, com todos sendo positivos, na última linha, o losango mostra que, em conjunto, a margem de erro reduz e já não cruza a linha vertical, criando assim a evidência, como os cientistas chamaram, de concluisiva.
Detalhes estatísticos
O estudo utilizou uma nova técnica chamada Trial Sequential Analysis. “É uma técnica que está começando a ser usada mais agora. É uma modificação da técnica usual de metanálise que evita que o erro tipo I, concluir que a droga funciona quando não funciona, acabe sendo inflado quando múltiplas metanálises são feitas ao longo do tempo. Na verdade acho que o uso dessa técnica seja excesso de zelo, já que nem a Cochrane tem uma decisão definitiva sobre recomendar a técnica”, explicou Daniel Tausk, professor associado do departamento de matemática da USP.
“Para o desfecho de admissão na UTI, o resultado foi estatisticamente significativo mesmo quando se usa o critério mais restrito da Trial Sequential Analysis. No caso da redução de mortalidade, os autores afirmam que há significância estatística usando a técnica usual de metanálise, mas o resultado ainda é inconclusivo de acordo com a Trial Sequential Analysis. No entanto, refazendo as análises, verifiquei que o resultado sobre mortalidade não é estatisticamente significativo nem mesmo na metanálise mais simples (os autores deveriam ter usado um modelo de efeitos aleatórios). Obviamente, isso não quer dizer que a vitamina D não seja eficaz para reduzir a mortalidade, mas como trata-se de um evento mais raro são necessários mais dados para se obter uma estimativa mais precisa do efeito”, complementou.
Uso no cotidiano
O médico infectologista Dr Francisco Cardoso utiliza a Vitamina D contra a COVID-19 em seus pacientes desde o início da pandemia. “Pacientes que tinham bom nível de vitamina D no sangue, de pelo menos 30 ng/mL, dificilmente iam para a UTI. Mesmo pacientes do grupo de risco, como idosos e diabéticos. A gente começou a correlacionar com risco de agravo. Depois veio uma sequência de estudos”, afirmou, ressaltando a extrema segurança da vitamina.
Dr Francisco comenta sobre profissionais que lutaram contra. “Enquanto isso, nossos ‘heróis da ciência’ brasileiros, ficavam fazendo chacota e piada com a Vitamina D, inclusive médicos se submetendo ao ridículo de chamar o dia da mentira, primeiro de abril, como dia da Vitamina D”.
“Agora com esses novos estudos, eu considero antiético não verificar o status da Vitamina D e não suplementar com Vitamina D pacientes com COVID-19”, complementou.
Atila Iamarino, com mais de 1 milhão de seguidores, ironizou
O influencer e apresentador de televisão Atila Iamarino ironizou o uso da Vitamina D contra a COVID-19 quando já haviam diversos estudos positivos, inclusive boa parte dos utilizados na meta-análise definitiva.
Atila é garoto propaganda de produtos patenteados e caros da Pfizer e estrela vídeos de marketing da empresa. Enquanto isso, a Vitamina D não possui patentes.
“Depois de comprar a pesquisa clínica e a educação médica por décadas ao redor do mundo, a indústria farmacêutica resolveu comprar a divulgação científica brasileira também”, comentou Olavo Amaral, médico, pesquisador e professor da UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro.
“O movimento da indústria não chega a surpreender. O que incomoda é ver o quão raro é ver alguém resistir a ele. E o fato de que as pessoas seguem fazendo divulgação científica sobre os mesmos temas em suas plataformas usuais sem nenhuma menção de conflito de interesse”, complementou Amaral.
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