Maior estudo científico do mundo com o medicamento envolveu 220 mil pacientes e só foi possível devido à excelência do SUS – Sistema Único de Saúde.
Neste sábado (11), durante o Primeiro Congresso Mundial do World Council for Health – Médicos Pela Vida, ocorrido em Brasília, foram apresentados, como principal atração do congresso médico, os resultados do maior estudo do mundo com a ivermectina. A pesquisa completa pode ser lida no repositório científico Research Gate.
O estudo envolveu 220.517 pessoas e avaliou a eficácia da ivermectina em profilaxia pré-exposição para a COVID-19. Isso é quando os pacientes tomam a medicação preventivamente, antes de terem contato com o Sars-Cov-2, o vírus causador da doença COVID-19, que já vitimou mais de 600 mil brasileiros.
O estudo, liderado pela cientista brasileira Lucy Kerr, é o resultado de um esforço conjunto de pesquisadores de diversas universidades, como pesquisadores da USP de Ribeirão Preto e da Universidade de Toronto, no Canadá.
Resultados de uma cidade inteira
Para todos os habitantes de Itajaí, município no litoral de Santa Catarina, foi oferecida a ivermectina em doses quinzenais de 0.2mg por kg por dia, por dois dias. Ou seja, uma pessoa que pesa entre 60 e 90 kg, tomou, a cada duas semanas, 3 comprimidos de ivermectina por dia, por dois dias. Se o peso fosse maior que 90 kg, foram oferecidos 4 comprimidos ao dia. O estudo acompanhou os resultados da profilaxia entre julho e dezembro de 2020.
Entre os 220 mil habitantes da cidade envolvidos no estudo, 133.051 (60,3%) tomaram a ivermectina e 87.466 (39,7%) não tomaram o medicamento oferecido pela prefeitura e se tornaram o grupo controle para comparação dos resultados. “As preferências dos pacientes e a autonomia médica foram preservadas”, escreveram os cientistas no estudo.
Apenas pessoas com mais de 18 anos participaram. “Crianças foram excluídas. E também as pessoas que já tiveram COVID anteriormente”, explicou Lucy Kerr. “Tudo foi feito dentro da lei, com as solicitações de autorização do ministério público”, acrescentou.
No decorrer dos seis meses, entre as 133 mil pessoas que tomavam ivermectina 62 acabaram falecendo de Covid-19. Entre as 87 mil pessoas que não tomaram o medicamento, 79 morreram. Houve, portanto, uma redução de 48% na chance de morrer de COVID.
Eficiência do SUS como essencial para a ciência brasileira
A ivermectina foi oferecida e receitada por postos de saúde e um centro provisório montado durante a pandemia. Os profissionais do SUS em Itajaí acompanharam e registraram os dados tanto dos pacientes que tomaram a ivermectina como os que não tomaram os medicamentos. “Toda a cidade tinha cadastro digital no SUS e ele foi sendo atualizado com as novas consultas à medida que as pessoas iam buscar a medicação”, afirmou Kerr.
A cientista elogia os profissionais de saúde de Itajaí. “Todos eles colaboraram muito, mas muito mesmo”, afirmou Lucy. “Não eram apenas dados se tomou ou não tomou. Também tinha o conhecimento de todas as comorbidades e doenças prévias das pessoas. Se tinha asma, diabetes, câncer”.
“Nosso estudo não é difícil de verificar. Ele corresponde aos dados oficiais do município durante o período do programa. Tudo isso só foi possível graças ao SUS que permitiu o controle estrito de todos os casos e mortes por COVID”, afirmou Flavio Cadegiani, cientista coautor do estudo.
Estudo rigoroso e com dados precisos
“Fiquei impressionado com a ausência de dados faltantes, o que não é absolutamente comum para estudos populacionais retrospectivos. A qualidade dos dados e a quantidade de fatores que foram considerados nos permitiu realizar um tipo de análise chamada de propensity score matching, que torna o estudo praticamente equivalente a um estudo randomizado em termos de qualidade de certeza”, afirmou Cadegiani.
“Não sei se isso seria possível em outros países, uma vez que o Brasil, pelo SUS, é um dos países mais digitalizados, e com dados precisos, no sistema de saúde. É muito pouco provável que qualquer outra base de dados, instituições e organizações, de qualquer lugar do mundo, tivesse a mesma capacidade que o SUS tem para obtenção dos dados”, complementou.
“A coisa mais importante que nosso estudo mostrou é que ela protege mais a população idosa e com comorbidades. Foi onde a gente salvou um em cada 66 tratados”, afirmou Lucy Kerr.
“Acho que o Brasil mais uma vez sai na frente no enfrentamento da COVID. O estudo e Itajaí, não só pela sua grandeza, possibilitado pela existência do SUS e de uma gestão compromissada com a vida dos seus munícipes, vem consolidando conhecimento de eficácia e segurança da profilaxia com fármaco reposicionado, d também ainda traz a promessa de outras partes deste mesmo estudo”, afirmou Antonio Jordão, presidente do Médicos Pela Vida, organizador do congresso.
“Foi um orgulho ter este estudo de alta qualidade lançado aqui”, complementou.
Repercussão internacional
“Espero que este artigo receba a atenção que merece, em particular a dramática queda na mortalidade e hospitalização em toda a cidade após o início do programa”, afirmou o médico e professor de medicina norteamericano Pierre Kory, um dos maiores especialistas do mundo em cuidados intensivos.
Outros estudos da ivermectina em profilaxia
Hoje, 12 de dezembro, incluindo o liderado por Lucy Kerr, existem 16 estudos sobre profilaxia da COVID-19 usando ivermectina. Todos, de modo unânime, apresentam resultados positivos, sendo a imensa maioria deles, já revisada por pares.
Alô, checadores de fatos
Você consultou alguém que afirmou, com todas as letras, que “estudo observacional não comprova eficácia”, não é mesmo? Quer ver seu especialista correr? Mostre para ele o estudo de Anglemeyer, publicado na Cochrane. Este estudo diz que não há diferenças significativas de resultados entre estudos observacionais e o “padrão ouro”. Ou seja, os resultados coincidem, principalmente quando a eficácia é maior que 8%, como é o caso deste estudo. Ele coreu já, ou ainda não? Mostre outro, de Kjell Benson, publicado na NEJM. Veja ele correr. E nem inventem de dar uma resposta aqui ignorando estes estudos, ok? Estamos combinados?