Em artigo publicado recentemente no periódico The Lancet, pesquisadores italianos realizaram uma análise relacionando os sistemas nacionais de vigilância contra COVID-19 e de registro de vacinação com o intuito de avaliar a eficácia da vacina contra a infecção por SARS-CoV-2 e casos de COVID-19 grave em crianças de 5 a 11 anos frente a variante Ômicron, predominante no momento de realização do mesmo.

Nesse estudo, que envolveu a maior amostragem até então, todas as crianças italianas na faixa etária descrita, que não tiveram diagnóstico anterior de COVID-19 e com status vacinal devidamente registrado, foram acompanhadas por 2 meses. Crianças não vacinadas foram usadas como grupo controle, e foi possível estimar a eficácia da vacina nas crianças com vacinação completa (que receberam duas doses) e parcial (que receberam apenas uma dose). Além disso, os pesquisadores acompanharam como a eficácia da vacina evoluiu contra a infecção ao longo do tempo desde a vacinação por um período mais longo do que qualquer estudo prévio. O estudo foi iniciado 14 dias após as primeiras crianças receberem a segunda dose da vacina BNT162b2 de mRNA, e os participantes foram acompanhados até a data do diagnóstico com COVID-19 ou o final do período de acompanhamento, o que ocorreu primeiro.

A eficácia da vacina contra a infecção por SARS-CoV-2 no grupo totalmente vacinado foi de 29,4% e de 41,1% contra COVID-19 grave; enquanto a eficácia da vacina no grupo parcialmente vacinado foi de 27,4% contra infecção por SARS-CoV-2 e de 38,1% contra COVID-19 grave. Além disso, a eficácia da vacina contra a infecção por SARS-CoV-2 atingiu seu pico no período de 0-14 dias após a vacinação completa com as duas doses (38,7%), e diminuiu para 21,2% na faixa de 43–84 dias após a segunda dose.

Pesquisadores pedem análise de risco e benefício antes de recomendar

Em muitos países do mundo as taxas de cobertura vacinal em crianças de 5 a 11 anos estão relativamente baixas. E, apesar dos resultados deste estudo sugerirem que a vacina BNT162b2 seja moderadamente eficaz na prevenção de infecções e casos graves de COVID-19 nesta faixa etária, os autores ressaltam que a eficácia é menor do que em outras faixas etárias, e que, pelo menos contra a infecção, parece diminuir com o tempo. De modo que esses resultados devem ser interpretados pelas autoridades de saúde pública juntamente com dados sobre a segurança da vacina e a probabilidade de mortalidade e morbidade por COVID-19 nessa faixa etária para que sejam feitas escolhas adequadas de estratégias de vacinação para esta faixa etária.

Situação no Brasil – abaixo da flexibilização da ANVISA

Segundo notícia publicada no site Poder360, ainda em 2020, a ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, órgão responsável por aprovar vacinas e medicamentos no Brasil, aprovou, durante a pandemia, uma flexibilização de critérios para aprovação das vacinas COVID-19. Antes, o padrão para aprovação era ter uma eficácia de 70%. Durante a pandemia, isso baixou para 50%.

A matéria citou o gerente-geral de medicamentos e produtos biológicos da agência, Gustavo Mendes Lima Santos. “Ele afirmou que o órgão pode liberar um imunizante com 50% de eficácia mínima. O padrão é que o número seja acima de 70%”, afirmou a notícia.

Este estudo na Lancet concluiu uma eficácia de 21,2% após 43 dias, muito abaixo dos 70% ou até mesmo dos 50%. Ainda assim, a vacinação de crianças de 5 a 11 anos foi iniciada no Brasil, e, apesar de não ser obrigatória, segundo o Ministério da Saúde, existe uma pressão social sendo feita neste sentido, com escolas exigindo a vacinação das crianças e ameaçando os pais de acionarem o conselho tutelar em caso de descumprimento.

Fonte:

Artigo original: ​​Effectiveness of BNT162b2 vaccine against SARS-CoV-2 infection and severe COVID-19 in children aged 5–11 years in Italy: a retrospective analysis of January–April, 2022

 

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