No começo deste mês, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Amazonas (CREMAM) absolveu, por unanimidade, o Dr. Flavio Cadegiani, médico, cientista e autor líder de pesquisas com a proxalutamida para tratar a COVID-19. O braço norte do estudo ocorreu em seis cidades do Amazonas. Todas as acusações foram retiradas após a inocência do médico ter sido comprovada.
Uma das denúncias era que o Dr. Cadegiani, juntamente com outros autores do estudo, não havia cumprido o Código de Ética Médica, mais especificamente o artigo 109, que diz: “Deixar de zelar, quando docente ou autor de publicações científicas, pela veracidade, clareza e imparcialidade das informações apresentadas”.
Uma outra acusação alegava que a divulgação dos resultados das pesquisas com proxalutamida teria sido feita de forma sensacionalista, promocional ou contendo informações inverídicas durante uma entrevista coletiva. No entanto, a Dra. Danielle Monteiro Fonseca da Silva, conselheira relatora do processo, afirmou em seu voto que diversas ações semelhantes foram observadas durante a grave crise da pandemia, como a divulgação de vacinas nacionais e medicamentos sem autorização dos órgãos competentes. A decisão da Dra. Silva foi seguida pelos outros conselheiros que participaram do julgamento.
Em outro aspecto, também envolvido no julgamento, estava a acusação vinda da CONEP – Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, de que a pesquisa não poderia ter ocorrido em Manaus, mas apenas em Brasília. Mas a denúncia não procedia. “Ficou nítido para todos ao longo do julgamento que tal acusação não tinha absolutamente qualquer fundamento”, explicou Cadegiani.
A relatora votou pela inocência de Dr Cadegiani. “Provou nos autos não ter vínculo com a indústria farmacêutica, tampouco divulgou informações inverídicas, mostrando, apenas, os resultados animadores das pesquisas”, afirmou em seu voto.
Antes ele foi absolvido no Rio Grande do Sul
A pesquisa com a proxalutamida foi realizada em dois estados brasileiros, Amazonas e Rio Grande do Sul. No Rio Grande do Sul, as denúncias foram julgadas pelo CREMERS – Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul, em resposta às denúncias apresentadas pela Procuradoria da República do RS.
Na conclusão da sindicância, que ocorreu em outubro do ano passado, os julgadores destacaram que o estudo cumpriu todas as aprovações técnicas e burocráticas necessárias. Além disso, escreveram: “Destacam-se os resultados extremamente animadores apresentados pela proxalutamida, revelando efeitos estatisticamente significativos na redução do dano pulmonar ocasionado pelo COVID, mesmo no curto período de tratamento e também por não ter havido dano aos pacientes testados pela droga”.
“Quiseram saber tudo o que se passou, e ao final, notaram que não havia espaço para qualquer dúvida”, afirmou Cadegiani. “Ter a verdade a meu favor me deu muita tranquilidade quando tratam-se de órgãos sérios, verdadeiramente independentes, imparciais, e, consequentemente, justos”.
Saiba mais sobre o caso
O estudo com a Proxalutamida, revisado por pares e publicado, envolveu 778 pacientes com COVID grave, hospitalizados, do Amazonas e do Rio Grande do Sul. A redução de mortes constatada foi de 78%.
- Proxalutamida: 45 de 423 (10,6%) morreram.
- Placebo: 171 de 355 (48.2%) morreram.
Estudo elogiado no mundo
No Brasil, o estudo foi atacado impiedosamente pela imprensa, o que gerou uma onda de denúncias nos conselhos de medicina. Contudo, no exterior, nas mais renomadas instituições científicas do mundo, a alta qualidade do estudo foi atestada.
Na Universidade de McMaster, do Canadá, o berço da Medicina Baseada em Evidências, o estudo foi avaliado com uma das notas mais altas entre todos os estudos de medicamentos da COVID. O mesmo ocorreu com a análise do site COVID-NMA, vinculado a Cochrane, da França, que busca analisar evidências científicas de tratamentos. Por lá concluíram existir pouco viés, o que comprova a solidez do trabalho.
Transparência e ataques
Os estudos do Dr Cadegiani só puderam ser analisados com profundidade pela McMaster, pela Cochrane da França e pelos revisores da Cureus, porque ele disponibilizou os dados brutos para a comunidade científica internacional, o que é algo raro no meio científico médico, pois revela transparência absoluta.
Enquanto isso, no Brasil, os ataques foram unicamente pessoais e baseados em especulações. Um exemplo disso é o texto publicado no site do Instituto Questão de Ciência, que tem como objetivo orientar políticas públicas no país e geralmente é considerado pelos veículos de imprensa nacionais como uma fonte “especializada” no assunto. No artigo em questão, pessoas com pouca qualificação em análises de estudos clínicos chegaram a especular se o estudo foi realmente randomizado. No entanto, é importante destacar que a randomização do estudo foi qualificada como de alta qualidade tanto na McMaster quanto na COVID-NMA.
Por outro lado, especialistas do exterior com históricos concretos na medicina e ciência, elogiaram o esforço pela transparência de Cadegiani em suas pesquisas. “É excelente que tenham divulgado os seus dados de forma anônima. Eles têm verdadeira confiança nos resultados das suas análises. É assim que a boa ciência é levada a cabo.”, afirmou o Dr Harvey Risch, professor de epidemiologia da Universidade de Yale, EUA, quando Cadegiani disponibilizou dados públicos e anonimizados de um de seus estudos.
Para atacar, até teorias de conspiração
Atila Iamarino, o divulgador científico mais bem-sucedido do Brasil, com mais de 1,2 milhão de seguidores no Twitter e 1,1 milhão no Instagram, publicou em sua conta no Twitter uma “suspeita macabra”, segundo ele. A postagem insinuava que o grupo de controle, em vez de receber placebo, estava sendo envenenado para criar uma falsa melhora no grupo de tratamento. Ou seja, uma teoria de conspiração onde diversos médicos de diversos hospitais toparam matar pacientes para fingir que um tratamento funciona.
Posteriormente, no Jornal Nexo, foi revelado por Olavo Amaral, médico, cientista e professor da UFRJ, que Atila Iamarino é patrocinado pela Pfizer, inclusive, fazendo interpretações equivocadas de estudos sobre vacinas. “Negar a proteção acumulada pela infecção prévia, e com isso exagerar o risco da infecção por covid-19 para a maioria da população em 2023, é uma forma eficiente de vender vacinas”, afirmou.
Após essa insinuação, além de outras acusações, que incluiu a de que Cadegiani era chefe de contrabando de proxalutamida, a Polícia Federal fez uma operação de busca e apreensão na casa e no consultório de Cadegiani, e na casa de Ricardo Zimerman, infectologista também autor de estudos com o medicamento. A polícia estava na expectativa de encontrar comprimidos, mas não acharam. Levaram computadores e celulares. Além disso, a pedido da ANVISA, fizeram análises nos medicamentos que já estavam com as autoridades competentes. A polícia queria saber se a acusação de que os comprimidos de placebo continham veneno tinha algum embasamento. (Veja documento que a redação MPV teve acesso no final da página).
“O absurdo é tão grande que um medicamento e o placebo idêntico que foi fabricado na China e veio via Estados Unidos, que passaram por diversos órgãos de controle, incluindo a licença de importação da Anvisa, teve que ser submetido a análise. Mas isso é ótimo porque acaba com algumas palhaçadas. A Polícia Federal realizou a análise dos comprimidos de proxalutamida e de placebo, e viu que eles continham, respectivamente, proxalutamida na quantidade exata e nada, respectivamente.”, conta Cadegiani.
Sobre a alta mortalidade em internados no Amazonas, na alta das ondas, Cadegiani comentou: “Possivelmente só alguém que já pensou em fazer uma barbaridade de assassinar pessoas para um estudo cogitaria algo assim em meio ao fato de que a mortalidade, embora infelizmente elevada, estava dentro do encontrado na região à época”.
Proxalutamida confirmada nos EUA
Em um estudo randomizado, duplo cego, “padrão ouro”, executado nos EUA, multicêntrico, a eficácia da proxalutamida foi confirmada. Era um estudo ambulatorial em pacientes infectados com a COVID-19. No grupo tratamento, 0 de 346 (0.0%) precisaram ser hospitalizados. No grupo controle, com placebo, 6 pacientes de 347 (1.7%) foram hospitalizados.
Teoria androgênica hoje
A equipe de Cadegiani é pioneira no estudo dos antiandrogênicos contra a COVID-19. A proxalutamida é um medicamento patenteado, da linha dos anti-androgênicos, mas de última geração.
Entretanto, a proxalutamida é de uma família de medicamentos sem patentes, como a dutasterida, enzalutamida, espironolactona, entre outros.
Hoje existem 47 estudos de medicamentos antiandrogênicos contra a COVID-19. Em tratamento precoce, com até 5 dias de sintomas, a média de eficácia é de 44%. Em tratamentos em pacientes com mais de 5 dias de sintomas, hospitalizados, a eficácia média é de 64%.
Além disso, uma meta-análise revisada por pares e publicada recentemente, no dia 18 de abril de 2023, no prestigiado Journal of Medical Virology, que incluiu somente estudos clínicos randomizados, mostrou redução de mortalidade de 63% com os antiandrogênicos em geral, redução que se mantém significativa mesmo sem os estudos da proxalutamida, conforme sub-análise a partir das análises do estudo.
Inferno: 4.211 mortes por dia
Os resultados do braço Amazonas do estudo foram divulgados em entrevista coletiva pelo Youtube em 10 de março de 2021. Naquela época, morriam cerca de 2 mil pessoas por dia. Um mês depois, em 6 de Abril, na alta de uma onda, o Brasil bateu seu recorde, com 4.211 óbitos em 24 horas.
Ou seja, se o medicamento tivesse sido usado em todo o Brasil, em apenas um único dia, 3.326 óbitos teriam sido evitados. “Triste porque o consórcio da imprensa, dos médicos corruptos, dos tiktokers pagos pela indústria e dos políticos carreiristas se uniu para demolir nossa pesquisa inédita. Nossos resultados foram publicados, mesmo após escrutínio inimaginável e sem precedentes. Infelizmente, no entanto, os anti-androgênicos mais potentes não puderam ser aplicados em larga escala, resultando em mortes preveníveis”, lamentou o Dr Ricardo Zimerman, um dos autores do estudo com a proxalutamida.
“Bem, ao menos eu posso dizer, com boa margem de segurança, que o grau de certeza do rigor do nosso estudo encontra poucos paralelos na história da medicina, tamanho o escrutínio pelo qual o estudo passou”, concluiu Cadegiani.
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