Em 25 de novembro, a revista britânica The Spectator publicou um artigo de autoria de Carl Heneghan, professor de medicina baseada em evidências na Universidade de Oxford, em coautoria com Tom Jefferson, epidemiologista clínico e tutor associado sênior na Universidade de Oxford. No artigo, os autores questionam a narrativa oficial de 12 milhões de vidas salvas com as vacinas COVID-19.

Sobre a The Spectator

O “The Spectator” é  uma revista semanal britânica sobre política, cultura e assuntos atuais. Foi publicada pela primeira vez em julho de 1828, o que faz dela a revista semanal mais antiga do mundo. Em 2021, teve tiragem impressa média de 102.212 exemplares. Além disso, em 2020, The Spectator tornou-se a revista de atualidades mais duradoura da história e a primeira revista a publicar 10.000 edições.  

É uma revista que tem boa reputação e prestígio. Entre seus editores recentes, entre 1999 e 2005, esteve na liderança Boris Johnson, ex-primeiro-ministro do Reino Unido.

Confira trechos traduzidos

A BBC informou que a AstraZeneca e a Pfizer são creditadas por terem salvado juntas mais de 12 milhões de vidas no primeiro ano de vacinação contra a Covid. Para embasar essa afirmação, a BBC faz referência à Airfinity, uma “empresa de previsão de doenças”.

A Airfinity utilizou um estudo do Imperial College London, que calculou que as vacinas contra a Covid salvaram 20 milhões de vidas entre dezembro de 2020 e dezembro de 2021. Usando um modelo matemático, a equipe do Imperial presumiu que a vacinação conferiu proteção contra infecção por Covid (as vacinas de mRNA foram estimadas em 88% de proteção contra infecção após a segunda dose) e contra o desenvolvimento de doenças graves que necessitariam de internação hospitalar. A equipe também assumiu que indivíduos infectados que foram vacinados eram menos contagiosos do que os não vacinados.

Nós baixamos os dados suplementares do GitHub (onde acadêmicos frequentemente armazenam seus códigos de computador) para examinar as estimativas específicas por país e avaliar a plausibilidade dos números no Reino Unido, Itália e Estados Unidos.

No Reino Unido, com cobertura vacinal de 68%, estima-se que 507.200 (382.200 a 789.900) mortes foram evitadas devido à vacinação (52 mortes prevenidas por 10.000 vacinados). Na Itália, os modeladores previram que, com uma cobertura de 73%, 491.300 (444.800 a 544.400) mortes foram evitadas (53 por 10.000 vacinados). Nos EUA, com 61% de cobertura, 1.902.000 (1.737.000 a 2.069.000) mortes foram evitadas (44 por 10.000 vacinados).

A equipe do Imperial ajustou um modelo para a mortalidade excessiva por todas as causas, usando mais modelagem do Economist. Eles também assumiram que cada país seguiria a mesma tendência temporal do número reprodutivo (Rt) desde o início da pandemia. Apesar da ausência de dados detalhados de vacinação para a maioria dos países e da suposição de que a relação entre idade e a taxa de letalidade por infecção era a mesma para todos os países, a BBC ainda utilizou os números.

Em 2021, houve 667.479 mortes no Reino Unido, 22.150 a menos do que as 689.629 mortes em 2020. Por nossa análise, os modeladores querem que acreditemos que, na ausência de vacinação, teria havido 1.174.679 mortes no Reino Unido em 2021.

De forma semelhante, na Itália, ocorreram 701.346 mortes em 2021; o modelo prevê que o número teria sido 1.192.646, com 452.329 mortes a mais que em 2020. Nos EUA, um total de 3.464.231 mortes de residentes foram registradas em 2021, 80.502 a mais do que em 2020. Os modeladores assumiram que teria havido 5.366.231 mortes nos EUA em 2021, caso a vacinação não tivesse sido implementada.

Infelizmente, muitos jornalistas não verificam seus números ou fatos: muitas das suposições do modelo estão incorretas, e o número estimado de mortes evitadas pelas vacinas é implausível.

Isso não é surpreendente. Assim como na medicina, modelos não têm lugar no processo de estabelecer eficácia. Reguladores não os utilizam para aprovações, e tomadores de decisão, como o National Institute for Health and Care Excellence, usam modelos econômicos com estimativas confiáveis de efeito e custos credíveis. Eles não aparecem nos níveis de evidência do Centre for Evidence-Based Medicine ou no sistema de classificação de evidências do Scottish Intercollegiate Guidelines Network, pois são irrelevantes para responder questões terapêuticas. Ensaios clínicos são o principal tipo de estudo para determinar a eficácia de medicamentos ou vacinas; qualquer outra coisa é apenas um palpite ruim.

Este post foi escrito por dois “velhos rabugentos” que explicarão por que estimativas de efeito baseadas em dados observacionais devem ser vistas com ceticismo. Modelos simplesmente não deveriam ser usados. Ensaios grandes, bem projetados, bem relatados e com dados acessíveis deveriam ser usados para intervenções globais de saúde pública. Então, por que estamos usando modelos para justificar decisões?

Fonte

Did Covid vaccines really save 12 million lives? | The Spectator