Perdoem-me por minhas faltas.

O exame e compreensão da Oração do Senhor, Pai Nosso, em latim foi algo que me causou profunda inspiração filosófica.

Em lugar de expressões, como nas línguas modernas, que sugerem a prática comissiva de algum delito (moral, civil ou criminal), ao dizer, por exemplo:

  1. a) em português: “perdoai-nos as nossas ofensas”;
  2. b) em inglês: “forgive us our trespasses”;
  3. c) em francês: “pardonne-nous nos offenses”;
  4. d) em espanhol: “perdona nuestras ofensas”;
  5. e) em alemão: “vergib uns unsere Schuld”;

A belíssima e profunda oração em latim diz: “dimitte nobis debita nostra”.

Não me escapou à minha modesta compreensão a noção de que ‘debita’, plural neutro de ‘debitum’, pode muito bem referir-se a algumas dívidas que tenhamos contraído, mas também, de modo muito mais relevante espiritualmente, à falta de alguma qualidade que possamos e deveríamos ter, e que, por si só, pode ser causa de sofrimento para nossos irmãos, para aquelas pessoas que amamos, ou com quem, ainda que de forma muito passageira, possamos interagir de algum modo.

Quem de nós, capaz de alguma reflexão ou autocrítica, não consegue perceber que às vezes nos faltam algum valor ou qualidade que poderíamos desenvolver, ou tentar trabalhar e aperfeiçoar melhor?

A maturidade revela que, em verdade, muitas vezes pecamos, não só por ação mas por omissão, por alguma ausência ou falta, ainda que em grau, de alguma qualidade importante e essencial.

 

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