Escrito originalmente em inglês para o Browstone Institute


Por ser uma pessoa com a ideologia de esquerda, o assunto preconceito sempre me interessou. Entender a sociedade, como as pessoas pensam, e como as pessoas reagem às mudanças e ao progresso social, é desafiador. Com isso em mente, do nada, sem ser negro, começo a defender cotas para negros em universidades. Sem ser gay, começo a defender casamento gay. Sem ser mulher, defendo a autonomia da mulher sobre seu corpo e critico o machismo estrutural da sociedade.

Quando a conversa evolui e existe alguma resistência nestes pontos, pessoas como eu, que compram as brigas sociais dos outros, se mantêm combativas e sustentam a argumentação com base em teoria. Citamos ideólogos, filósofos, números e estudos. Com isso, explicamos como a sociedade é preconceituosa. Sempre concluímos que é necessário evoluir. Em última análise, nosso objetivo é sensibilizar aqueles que resistem à realidade das vítimas.

Mas é tudo com base em teoria. É a bandeira dos outros, sem sentir na pele.

É exatamente neste ponto que a fragilidade se apresenta. Não é incomum que alguém com uma perspectiva diferente nos acuse de não estarmos diretamente envolvidos em nossas próprias batalhas e, portanto, de não compreendermos completamente o problema. Afinal, não estamos vivenciando as discriminações em primeira mão. Admito que, no mínimo, essa acusação possui algum fundamento.

Entretanto, durante a COVID-19, vi uma oportunidade de fazer um grande laboratório em um experimento pessoal sobre preconceito. A ideia para isso surgiu quando li um artigo científico publicado na Nature: “Atitudes discriminatórias contra pessoas não vacinadas durante a pandemia“.

Em resumo, este artigo, publicado no fim de 2022, concluiu que, no auge da campanha de vacinação, houve forte intolerância e discriminação por status de vacinas COVID-19. Os investigadores descobriram que, na maioria dos países, as pessoas vacinadas apresentam atitudes negativas em relação às pessoas não vacinadas. Mas, curiosamente, havia evidências mínimas do contrário. Ou seja, os não vacinados não são preconceituosos contra vacinados.

E não foi mínimo o preconceito que os cientistas constataram contra os não vacinados. Foi duas vezes e meia maior do que as atitudes de exclusão aos imigrantes do Oriente Médio. Os pesquisadores descobriram que os não vacinados são tão odiados quanto as pessoas que lutam contra a dependência de drogas e significativamente mais do que pessoas que saíram da prisão.

A pesquisa foi profunda. Os investigadores descobriram que muitas pessoas vacinadas não gostariam que os seus familiares próximos se casassem com alguém que não foi vacinado.  Tendiam também a considerar os não vacinados como incompetentes ou menos inteligentes. Uma boa parte dos vacinados consideraram que as pessoas não vacinadas deveriam enfrentar restrições à sua liberdade de circulação. Uma percentagem mais baixa defendeu restrições à liberdade de expressão dos não vacinados. Sim, defenderam que os não vacinados não deveriam ter sequer o direito de falar.

E todo esse preconceito foi introjetado na sociedade de modo pensado. É o que se conclui ao ler outro estudo, feito antes de lançarem os produtos: “Mensagens persuasivas para aumentar as intenções de adesão à vacina contra a COVID-19“.

O objetivo desta pesquisa era saber quais eram as mensagens mais eficazes para serem usadas durante a campanha de comercialização das vacinas COVID-19. Baseado nisso, posteriormente, de modo intencional, as pessoas foram programadas como robôs: “É ainda mais eficaz adicionar uma linguagem que enquadre a adoção da vacina como proteção de outros e como uma ação cooperativa. Enfatizar que a vacinação é uma ação pró-social não só aumenta a aceitação, mas também aumenta a vontade das pessoas de pressionar outras a fazê-lo, tanto pela persuasão direta como pelo julgamento negativo dos não vacinados”.

Só houve um único problema neste plano de marketing. As melhores mensagens publicitárias do produto nunca representam as qualidades do produto. Essa informação de que as vacinas ajudariam na redução das transmissão, e portanto, vacinar representava uma ação pró-social, desde o começo, era mentira. Logo no início, estudos já mostravam que as vacinas não reduziam ondas de infecções em países, nem reduziam a contaminação dentro de casa.

Ou seja, apesar do marketing eficaz criado, baseado em preconceito contra não vacinados para melhorar a comercialização, com direito a retóricas moralistas de líderes políticos contra os não vacinados, os produtos farmacêuticos injetáveis sempre foram uma decisão individual, não coletiva. Ou seja, baseados em uma fraude gigantesca, criaram uma tensão social sem justificativa na ciência ou na saúde coletiva, apenas com objetivo monetário.

De qualquer modo, para mim, pessoalmente, mesmo constatando a fraude, esse cenário serviu como uma grande experiência social paralela. Eu queria saber como é sofrer, na pele, preconceito. Afinal, ser de esquerda, lutar contra preconceitos, mas sem jamais ter sofrido preconceito, deixava meu conhecimento pela metade.

A oportunidade era fascinante. Enquanto um negro entrando numa loja para fazer compras não pode fazer algum experimento de como é não sentir preconceito, afinal, ele não pode mudar de raça e entrar em alguma outra loja para ver se é atendido de modo diferente, eu só precisava comunicar, em certos grupos, que não tomei nenhuma vacina contra a COVID-19. Obviamente, a maioria dos não vacinados simplesmente omitiu seu status de vacinação, evitando preconceitos.

Entretanto, passar despercebido não era meu objetivo. Eu queria saber como era ser tratado pior do que imigrante do Oriente Médio, pior que ex-presidiário e pior do que um viciado em drogas. Agora, devido a essa experiência, eu tenho uma sequência boa de histórias pessoais, que vão desde o início da campanha de vacinação até agora. No começo, quando distribuíram as vacinas no Brasil, a prioridade era em grupos de risco: idosos e pessoas com comorbidades. Quando mais vacinas chegavam, as idades iam baixando. As notícias sobre as novas idades habilitadas a receber os produtos saiam em todos os meios de comunicação.

Logo quando chegou próximo da minha faixa etária, um amigo, um pouco mais velho, me ligou por zoom, algo que ele costumava fazer de vez em quando durante toda a pandemia. Ele levou a sério a ordem de ficar em casa. Na ligação, ele contava que, no dia seguinte, dirigiria por duas horas até um posto de saúde em uma cidade distante para tomar sua vacina. Eu achei curioso ele precisar ir tão longe para conseguir o produto que desejava. Ele afirmou que era o único posto de saúde que aceitava sua comorbidade. Em nossa cidade, demoraria mais algumas semanas.

Este amigo possuía um atestado médico confirmando pressão alta. “Este posto de saúde aceita a sua comorbidade também”, ele afirmou. “Qual comorbidade? Eu não tenho comorbidade”, respondi. Ele insistiu que eu tinha uma comorbidade e que esse era o único modo que ele mapeou de conseguir uma vacina antes. Além disso, ele sabia de um médico que me daria o atestado de minha comorbidade. Eu expliquei que não queria atestado de nada, que nem precisaria caso quisesse a vacina, porque eu sou piloto de avião e estava na lista de prioridades do governo, bastando eu ir em qualquer aeroporto que receberia na hora. Então não ia porque não desejava o produto mesmo. Deste modo, sendo claro, a informação que eu não pretendia me vacinar começou a espalhar. 

A rejeição foi imediata. Havia um contraste marcante entre alguém que estava disposto a obter um atestado médico para ter prioridade, que pesquisou um local que aplicasse a vacina de acordo com sua condição e estava disposto a dirigir por duas horas até outra cidade para adquirir o produto, tudo isso apenas para adiantar duas semanas, enquanto seu interlocutor menosprezava todo esse esforço.

Após algum tempo, quando a vida na cidade parecia ter voltado ao normal, encontrei outro amigo em um bar. Ele estava consumindo álcool em excesso, diariamente, e declarou com desânimo: “Vou morrer”. Intrigado, perguntei a razão, e ele explicou que estava enfrentando uma grave trombose na perna. Ele mancava e temia que sua vida estivesse por um fio a qualquer momento. Quando indaguei sobre qual vacina ele havia recebido, ele mencionou que tinha tomado a vacina da Janssen, que era conhecida por apresentar sérios problemas desse tipo. Tanto era assim que, pouco tempo depois, esta vacina foi suspensa em grande parte da Europa, embora ainda estivesse em uso no Brasil. As pessoas ao nosso redor ficaram espantadas com a ideia de alguém atribuir sua condição a uma vacina.

Durante todo o processo de comercialização, quando as faixas etárias para a vacinação eram reduzidas, eu não interferi quando adultos escolhiam receber as vacinas. No entanto, quando se tratava de pessoas fora do grupo de risco, como os jovens saudáveis e crianças, senti que era meu dever, no mínimo, emitir um alerta. Os números apresentados no estudo realizado pela equipe de Vinay Prasad, da Universidade da Califórnia, e publicado no periódico BMJ, eram alarmantes: o risco de um jovem ser hospitalizado devido aos efeitos colaterais da vacina era maior do que o risco de ser hospitalizado com uma possível infecção por COVID-19.

Na época, um amigo insistia que queria levar o filho, saudável e jovem, para vacinar. Expliquei o resultado do estudo e disse que não valia a pena o risco. Ele insistiu que iria. Por algum motivo, logo no começo, o procedimento não era apenas consumir o produto, mas também colocar uma foto nas redes sociais consumindo o produto ou exibindo a carteira de vacinação. “Já que vai fazer isso, se quiser que eu vá de fotógrafo, eu acompanho”, afirmei. Uma cadeira do bar voou em minha direção.

Alguns meses depois, eu estava em outro bar com diversas pessoas, e o amigo que teve a trombose na perna, após um longo tratamento, estava melhor e apareceu. Quando chegou, a primeira coisa que perguntei foi como estava a evolução do tratamento. Enquanto ele explicava, eu disse que a Janssen era realmente uma porcaria. Em um movimento fascinante e coordenado, todos os outros da mesa começaram a interromper, propondo novos assuntos, confirmando a pesquisa no sentido de que as pessoas querem censurar os não vacinados. 

A impressão que se tem é que todos estão cientes de que problemas podem ocorrer, mas adotam uma atitude semelhante à de seguidores fanáticos de religiões que realizam sacrifícios de animais ou pessoas. Eles entendem que alguns indivíduos serão sacrificados durante o processo, cujo objetivo é um “bem maior” que resultará na salvação de toda a humanidade, seguindo os desígnios de deuses que exigiram esses sacrifícios. E que, portanto, o assunto não deve ser falado nem questionado. Ao que tudo indica, as pessoas confiam que alguém está realizando um cálculo de risco e benefício sólido e acreditam que, se o governo, a mídia e os vendedores continuam a recomendar, é porque certamente vale a pena. Seria algo inédito: afinal, pela primeira vez na história da indústria farmacêutica, ninguém colocaria a vida deles em risco com um produto ruim apenas com o objetivo de lucrar.

Há uns poucos meses, com a pandemia já não sendo o principal assunto dos jornais, eu estava em um outro bar, com um amigo de esquerda. Chegou um conhecido e, depois de dizer algo, finalizando um assunto, disse uma frase acusatória: “o assassino que você apóia”. Eu não procurei tirar a limpo a acusação e meu amigo também fingiu que não ouviu. Com a política no Brasil polarizada há muitos anos, e as pessoas discutindo em ritmo de confronto maniqueísta e simplificado, estou acostumado com isso. Não é raro, na última década, só por eu defender políticas contra a fome ou de inclusão, alguém me acusar de ser defensor Stalin, Mao Tsé-Tung ou Pol Pot. Por algum motivo, as pessoas acreditam que isso é um argumento definitivo em seu favor. Obviamente, quando a conversa chega neste tipo de argumentação fanatizada, o melhor é ignorar. 

Depois fui saber que era de Bolsonaro, o ex-presidente do Brasil de extrema direita, que ele dizia. Ele soube que não me vacinei e, com uma lógica estonteante, concluiu que eu era eleitor dele. Obviamente, meu desprezo absoluto por Bolsonaro não é capaz de fazer eu nutrir amor pela big pharma. Mas isso ocorreu com a imensa maioria. Isso não dá para explorar agora, mas um dia alguém precisa escrever um longo ensaio tentando descobrir porque toda a esquerda ocidental virou, de um minuto para outro, defensora das grandes corporações imperialistas norte-americanas.

Entretanto, agora estamos em outubro de 2023, e acreditava que minha experiência pessoal estava quase acabando. Afinal, ninguém mais fala de vacinas COVID no dia a dia. Isso foi assim até semana passada, quando fui comer um espetinho em um bar com mesa na calçada. Com diversas pessoas à mesa, um amigo veio me dar uma notícia. Aníbal, um amigo em comum, o Anibinha, morreu na semana anterior.

“Infarto ou derrame?”, perguntei. Há pouco mais de dois anos, toda vez que morrem pessoas jovens que conheço, pergunto se é infarto ou derrame. Antigamente, quando jovens morriam, geralmente eram acidentes de trânsito ou coisas do gênero. Desde 2021, já me acostumei: é sempre infarto ou derrame. 

Eu não tenho dúvidas de fazer a pergunta se é infarto ou derrame porque, logo no no estudo inicial da vacina da Pfizer, “padrão ouro”, publicado na New England Journal of Medicine, com cerca de 44 mil pessoas, sendo 22 mil no placebo e cerca de 22 mil na vacina, morreu mais gente por todas as causas no braço vacina que no braço placebo. De início, era 15 a 14. Logo depois, ao atualizarem esse número na FDA, agência regulatória norte-americana, foi para 21 a 17. Agora, sem nenhuma surpresa, na atualização mais recente, já é 22 a 16.

Sim, é isso mesmo que você leu. Quando fechou a conta de mortos no estudo, tinham mais mortos no braço vacina que no placebo: 22 a 16. Isso porque houve fraude no estudo, segundo apuração na BMJ – British Medical Journal, um dos mais conceituados periódicos científicos do mundo. Nenhuma surpresa para uma empresa que possui, em seu histórico, a maior multa empresarial da história dos EUA, exatamente por fraude. 

Portanto, não ficaria surpreso se a situação de 22 a 16, eventualmente, piorasse ainda mais. Além disso, essa tendência de excesso de mortes entre os vacinados foi posteriormente corroborada pelo VAERS, o sistema de notificação de efeitos colaterais do governo dos Estados Unidos. Agora, desde 2022, dados demográficos subsequentes têm reforçado a presença de excesso de óbitos entre populações altamente vacinadas. Absolutamente tudo indicando que estamos diante de mais um velho e tradicional caso de iatrogenia, só que agora em proporções globais.

Na mesa, responderam minha pergunta. Aníbal, na casa dos 50, teve um infarto fulminante. É o terceiro, dos conhecidos jovens de bar, a morrer subitamente com doença cardiovascular desde que lançaram os produtos. “São essas porcarias de vacinas”, respondi. Fizeram uma cara de espanto. Na hora virei um imigrante do oriente médio, dependente químico e ex-presidiário. Diante disso, uma pessoa com empatia se ofereceu para me levar no posto de saúde para tomar vacinas. Outra perguntou, realmente interessada em saber a resposta, se eu acho que a terra é plana, confirmando a pesquisa publicada na Nature, onde os vacinados tendem a acreditar que os não vacinados são menos inteligentes.

Depois de alguns minutos, todos agiram exatamente como foram programados para agir: a conversa acabou. Se levantaram. Ficou apenas eu e mais uma única pessoa na mesa. Isso aconteceu justo na mesa cheia de pessoas progressistas, onde, pouco antes do assunto vacinas, eram contados relatos de festas fetichistas e surubas sexuais. Uma mulher contava do escravo sexual de quem ela é dona há anos. A minha conclusão é que, passados mais de dois anos, em outubro de 2023, as pessoas ainda estão irracionais sobre as vacinas. Afinal, sempre entendi como irracionais todos os preconceitos, desde os contra negros, contra gays, imigrantes ou contra pessoas que possuem uma visão libertária do sexo.

Mas resta uma dúvida. Não sei se essas reações representam apenas uma confirmação do preconceito constatado no estudo da Nature ou se há um outro componente: o medo de ser infectado com a COVID-19. Isso pode ocorrer por acreditarem que as vacinas reduzem a transmissão, afinal, a discriminação possui essa base de conhecimento, que logo foi contatada como falsa. Contudo, se essa fosse a motivação e as pessoas estivessem informadas, o preconceito hoje deveria ser contra os vacinados, afinal, os dados de longo prazo começaram a sair e não são bons: quanto mais doses as pessoas tomaram, maior a chance de contrair covid. O jogo já virou.

Ao mesmo tempo que essa alienação ocorre, agora, em 2023, os dados de mortes em excesso continuam a mostrar números horrorosos, inclusive com empresas de seguro de vida preocupadas. Não teve jeito. Os cientistas que promoveram as vacinas também constataram os números altos. Não dá para esconder. Enquanto isso, eu fico acompanhando os jornais dando explicações de que os infartos e derrames que aumentaram desde 2021 são causados pelo aquecimento global, mas também pelo frio. Que o aumento de ataques do coração é devido as pessoas serem solteiras, e também é causado por enchentes, por umidade. E não só isso, dormir pouco, mas também dormir muito, segundo os cientistas, são as causas.

Bem, sinceramente? Isso não é problema meu. O único problema é que os robotizados estão acreditando em tudo isso. Acompanhar esse fenômeno já é outro experimento social. O perigo é surgir uma nova variante COVID um pouco mais perigosa e todas essas pessoas resolverem tomar uma decisão: que eu devo ser vacinado. Afinal, o mais prudente é eles decidirem por mim, sou pouco inteligente.