Neste artigo, eu não vou entrar nos aspectos de tratamentos da COVID-19, em relação aos quais eu considero que há evidências científicas abundantes, enquanto os divulgadores científicos na grande mídia consideram que essas evidências são eternamente insuficientes, além de militarem contra. Já escrevi sobre isso com profundidade, mais de uma vez.

Também não vou falar de aspectos sobre o risco e benefício das vacinas, passaporte sanitário, ou os poderes quase ilimitados das grandes corporações farmacêuticas sobre a ciência, criando o que o BMJ – British Medical Journal, chama de “A ilusão da medicina baseada em evidências“. Este artigo explica que a academia foi corrompida, as pesquisas foram corrompidas, os órgãos reguladores foram corrompidos e os dissidentes são perseguidos . Também já escrevi longos textos sobre isso e entendo que os divulgadores não podem dar vozes aos cientistas dissidentes, os únicos que sobraram para contar a verdade sobre esses assuntos.

Entendo que os divulgadores científicos podem apenas reproduzir decisões oficiais de órgãos ocidentais. Considero que se acovardaram ao calar o debate científico real, mas os entendo. O assunto tratamentos com medicamentos baratos, genéricos e sem patentes é para círculos restritos, sendo basicamente impossível, hoje, ter essa conversa de modo público.

Neste texto, vou me basear apenas em consensos reais, não os fabricados. Farei isso porque não quero a menor possibilidade de polêmica sobre o que escrevo. Não quero que paire qualquer dúvida sobre minhas críticas.

O hotel que trancou a varanda

Recentemente estive hospedado em um hotel na cidade de Americana, no interior de São Paulo. Para o café da manhã, havia uma bela varanda, ampla e com pé direito alto, mas estava trancada e os vidros todos fechados. Isso é contra o consenso entre todos os especialistas em COVID-19, tanto entre os que tratam quanto os que não tratam a doença. Quanto mais ventilados os ambientes, melhor para evitar a transmissão do vírus.

Os supostos divulgadores científicos, com espaço na mídia, ficaram trancados em casa e não entenderam como estava o mundo aqui fora, que continuava acontecendo. Histéricos, interditaram o debate. Arrogantes, do alto de um salto imaginário, era lockdown, “fecha tudo”, “parem tudo” e nada mais. E quem questionava, apenas por perguntar, era acusado de ser negacionista da ciência. Ao mesmo tempo, faziam uma chantagem emocional com todos, passando a mensagem que qualquer dúvida só podia ser de pessoas que não se importavam com a vida dos outros.

Com a ordem irreal de parar o mundo, sem mais opções, deixaram todos perdidos, sem o povo saber o que fazer. Sem instruções apropriadas, diversos lugares, para mostrar que faziam algo, implantaram regras, cada um de suas cabeças, como fecharem até os vidros do restaurante do hotel em um suposto combate à COVID.

Isso ocorreu, porque com medo exagerado do vírus, a divulgação científica ficou sendo a partir das bancadas de telejornais ou de lives no youtube. A ciência era para ser na rua, na vida real, com câmera na mão e orientações para os restaurantes, bares, hotéis e botecos que, obviamente, precisavam continuar funcionando e continuaram funcionando.

Os espaços na televisão eram para serem ocupados assim: “Neste hotel, agora durante a pandemia, a varanda foi valorizada. Há agora mais mesas no lado externo do que dentro. Além disso, todas as janelas estão abertas no máximo, mesmo quando bate um vento mais frio. É melhor colocar uma blusa do que correr o risco da COVID, não é, seu João?”.

O hotel queria e precisava tomar alguma atitude, até para mostrar para os hóspedes que estavam preocupados e fazendo algo contra a pandemia. Colocaram até fitas para demarcar que a varanda não poderia ser usada, além de cartazes ilustrados explicando o procedimento. Mas fizeram exatamente o contrário do recomendado. Isso é uma prova definitiva do fracasso homérico dos divulgadores científicos, empurrando gente para o vírus. E ambientes ventilados, sem aglomerações, são realmente muito eficazes.

Agência dos correios lotada

Raramente eu preciso ir aos correios. Logo após uma das baixas ondas de COVID, precisei ir em uma agência. Estava lotada como nunca esteve antes. Por algum motivo misterioso, eles reduziram o horário de atendimento, em vez de mantê-lo ou ampliá-lo. Abre mais tarde e fecha mais cedo. Resultado? As pessoas precisam ir ao correio e elas vão ao correio.

Com menos horários de funcionamento, fica mais gente simultaneamente na agência. Bastavam orientações sobre manter ou ampliar horários para que houvessem menos pessoas ao mesmo tempo. A mesma coisa aconteceu com os bancos. Um dia vi uma agência bancária, também com horários reduzidos, lotada de idosos.

Alguém acha que o Itaú, os Correios, ou o Bradesco não querem passar uma imagem de preocupados com a COVID? Sim, querem. Empresas deste tamanho têm pavor de manchetes negativas. Faltou esclarecimento científico. Desorientados, precisavam fazer algo para comunicarem que estavam tomando alguma atitude. E fizeram exatamente o contrário. Criaram aglomerações. Um fracasso de comunicação da ciência real.

O bar que criava aglomerações

No meio do ano passado fui em um bar em minha cidade, Atibaia. Com temperatura amena, metade das pessoas ficavam do lado de dentro e outra metade do lado de fora, na calçada, tomando suas cervejas de pé e conversando. Quando deu 11 horas da noite, o responsável colocou todos para dentro, fazendo todos se aglomerarem, e fechou as janelas. “Medidas contra a COVID”, disse. Ele fez exatamente o contrário. Quanto mais aglomeração, pior. Isso é consenso científico.

O pequeno bar não possui grandes preocupações com relações públicas como um Itaú ou os Correios. O responsável me explicou que isso ocorria devido a um decreto do prefeito da cidade. Como que divulgadores científicos não explicaram o certo, diariamente, na televisão? E pandemia é assunto preferido dos telejornais até hoje. Era para ser algo assim: “Este é o bar do seu Zé. Ele mantém todas as janelas abertas e colocou mais mesas na calçada. Ele afirma que não quer ninguém do lado de dentro e até fez uma promoção para incentivar as novas regras”.

O prefeito, desorientado, precisava mostrar estar fazendo algo para satisfazer a opinião pública. Seu decreto de mandar fechar, obviamente saiu pela culatra. Um fracasso não do prefeito, mas dos divulgadores que não orientaram as autoridades.

Além disso, o Brasil é privilegiado com temperaturas amenas na maior parte do ano. Era para os prefeitos de todos os lugares terem tomado atitudes em flexibilizar as mesas dos lados de fora, avançando nas calçadas, mais do que as regras permitem usualmente. Algo que não dá para se fazer no Alaska, Canadá ou Suécia. Os divulgadores, entocados em suas casas, ajudaram a espalhar o vírus e matar gente. Perderam a oportunidade que poucos países possuem.

“Estou vacinada. Tomei três doses”

No twitter, vi uma postagem de Isaac Schrarstzhaupt. Ele faz parte de uma rede de divulgadores científicos chamada Rede Análise, que tem como missão analisar números e orientar a população em todos os aspectos da pandemia. Ele constatou um modo de agir estranho das pessoas suspeitas de COVID-19. Entendeu como um mistério.

“Um comportamento que eu acho um contra-senso é o fato da pessoa com sintomas gripais nunca cogitar que pode ser covid. ‘Ah, é rinite, ah, é alergia, ah, eu sempre tenho isso nessa época’, sendo que tem uma boa chance estatística de ser covid devido à alta transmissão”, postou.

Sim, é exatamente isso que acontece. E sim, para ele, é um mistério esse comportamento. Issac, cobrindo o assunto diariamente, ainda não entendeu a falha catastrófica que os divulgadores científicos, em uníssono, levaram a população.

Para continuar neste assunto e avaliar este comportamento, primeiramente é preciso falar das máscaras usadas como prevenção da COVID-19. E para falar da eficácia das máscaras, vamos para o melhor estudo conduzido sobre isso. Foi um ensaio randomizado, feito por cientistas dinamarqueses, revisado por pares e publicado no conceituado periódico científico Annals of Internal Medicine.

Foram designadas 3.030 pessoas para que elas usassem máscaras. Outras 2.994 pessoas foram o grupo controle, para comparação. Entre os que usaram, 1.8% dos usuários foram infectados dentro do período do estudo. Entre os que não usaram, 2.1% deles foram infectados, mas é uma diferença pequena o suficiente para não ter relevância estatística.

“A recomendação de usar máscaras cirúrgicas para complementar outras medidas de saúde pública não reduziu a taxa de infecção por SARS-CoV-2”, concluíram os cientistas no estudo.

Ou seja, neste estudo randomizado, o chamado “padrão ouro”, o melhor para comparação, que representa um nível de evidência maior, não fez diferença entre quem usou e quem não usou as máscaras. Não tivemos estudos maiores, bem conduzidos, para repetir o experimento. A conclusão, sem papas na língua, é que as máscaras, se funcionarem, possuem um baixo efeito na prevenção do vírus.

Não dá para desviar do artigo e fazer uma grande discussão sobre as máscaras. Muita gente já fez isso, com profundidade. Aqui estamos analisando as mensagens passadas para a população. E a mensagem foi, o tempo todo, que as máscaras são muito eficazes. É o que podemos considerar uma “mentirinha do bem”. Para que as pessoas usassem, exageraram no efeito positivo, sem margem para questionamento.

Apesar de ainda não existirem evidências contundentes favoráveis, eu, pessoalmente, acredito que as máscaras funcionam para evitar o contágio da COVID-19, algo entre 10 e 20% de eficácia, no máximo. Mas apenas se forem usadas as máscaras corretas e de modo correto.

Ainda assim, acredito ser válido o debate se vale a pena usá-la, devido a uma eficácia tão baixa e por existirem potenciais riscos do uso contínuo, principalmente para crianças. O argumento é que uma pessoa, só por estar usando, já sinaliza sua preocupação com a pandemia. E ninguém convida uma pessoa com máscaras para ir em uma festa com aglomerações, por exemplo.

A mesma “mentirinha do bem” ocorreu com as vacinas contra a COVID-19. Em campanha de vacinação, para que as pessoas aderissem, exageraram no marketing, aumentando a eficácia. A mensagem era algo assim: “as vacinas protegem você e sua família”. Entretanto, essas vacinas não são esterilizantes. Mesmo vacinado, você pega a doença e a transmite. As vacinas não reduzem a transmissão. Elas não fizeram, por exemplo, a menor diferença nas ondas de contágios, comparando lugares mais vacinados com menos vacinados.

A mensagem ensaiada desta campanha veio de um estudo feito em Yale, ainda em 2020, mas apenas divulgado em outubro de 2021, quando a maioria já estava vacinada. “Mensagens persuasivas para aumentar as intenções de adoção da vacina COVID-19“. Os autores afirmam: “Enfatizar que a vacinação é uma ação pró-social não apenas aumenta a aceitação, mas também aumenta a disposição das pessoas de pressionar outras a fazê-lo”.

Ou seja, mentiram sobre o efeito das máscaras para aumentar a aceitação e mentiram sobre o efeito das vacinas para aumentar a cobertura, tratando a população como crianças.

Neste contexto, conto uma história que presenciei. Recentemente entrei em uma loja de conveniência. A atendente estava com sintomas gripais durante uma pandemia que causa sintomas gripais. “Pode ser COVID isso aí”, eu disse. Como no relato de Isaac, ela negou. Disse que era alguma outra coisa: uma gripe ou um resfriado. Sugeri que se isolasse em vez de continuar trabalhando, para que não transmitisse a possível COVID para as pessoas. Ela também negou. Insisti que poderia ser COVID. “Estou vacinada. Tomei três doses”, garantindo que não era. Insisti que poderia ser. “Mas fui cuidadosa, usei máscara e álcool em gel”, afirmou.

Ninguém falou a ela que ela poderia pegar COVID mesmo usando máscaras, porque a eficácia é baixa. Ninguém falou a ela que poderia pegar a doença mesmo vacinada, porque as vacinas não são esterilizantes. Não a informaram corretamente para que ela agisse do jeito que eles desejavam.

Além disso, com as informações que ela possuía, repetidas ininterruptamente nos meios de comunicação, ficou a mensagem que apenas pegam a doença as pessoas descuidadas, que por algum momento, ficaram sem máscara.

Quem quer colar um selo em si mesmo de “descuidado” e transmissor da pandemia, já que tudo é muito, incrivelmente, eficaz? Para ela, somou a alta eficácia das vacinas com a alta eficácia das máscaras, portanto, era alguma outra coisa, COVID-19 não poderia ser. A “mentira do bem” deu errado. Sempre dá errado.

Japão não tratou seu povo como idiota

Em um recente artigo publicado no periódico científico Nature, Hitoshi Oshitani explica que o povo de lá não foi enganado com “mentirinhas do bem”, tratando seu povo de modo infantil. “Lições de COVID do Japão: a mensagem certa capacita os cidadãos“.

De modo leve e educado, ele explicou que os japoneses não se perderam com medo da doença. “No geral, o governo rapidamente equipou seu povo com informações para tomar medidas de proteção”, afirmou.

O autor explicou que o país alertou sobre três condições a evitar. “Ambientes fechados, condições lotadas e configurações de contato próximo. Mesmo com outros países focados na desinfecção, o Japão promoveu esse conceito extensivamente, pedindo às pessoas que evitassem atividades de alto risco, como bares de karaokê, boates e refeições em ambientes fechados”.

Além disso, o Japão, em relação ao respeito aos direitos humanos, é exemplar perante ao mundo. Eles não forçaram a vacinação, fizeram cumprir o consentimento informado, exigência do Código de Nuremberg, e desencorajaram o preconceito contra os não vacinados. Ou seja, eles não se importam em chamar e tratar as vacinas COVID como realmente são: vacinas experimentais.

“Embora encorajemos todos os cidadãos a receber a vacina COVID-19, esta não é obrigatória ou mandatória. A vacinação só será dada com o consentimento da pessoa a ser vacinada após a informação fornecida. Por favor, vacine-se por decisão própria, compreendendo tanto a eficácia na prevenção de doenças infecciosas como o risco de efeitos secundários. Nenhuma vacinação será dada sem o consentimento. Por favor, não force ninguém no seu local de trabalho ou aqueles à sua volta a serem vacinados, e não discrimine aqueles que não tenham sido vacinados”, diz o documento oficial do governo.

Brasil: “Cala a boca e te vacina”.

Absolutamente tudo que relatei acima gerou o resultado exatamente contrário ao desejado. E os próprios divulgadores científicos sabem como agiram. A avaliação é que passar informações incorretas pode ser benéfico. “A informação correta pode ter menos resultado do que uma informação incorreta de acordo com a polarização / educação / cultura de quem recebe essa informação”, confessou Issac.

Sobre a vacinação, ele afirmou que a comunicação correta, segundo sua ótica, é a que explica tudo em detalhes para que a população possa tomar sua decisão, mas o que funciona por aqui, segundo ele, é o “cala a boca e te vacina”.

E empurrar vacinas goela abaixo foi realmente o tom da comunicação. Por isso a grave denúncia de fraude no estudo da vacina da Pfzer, publicada na BMJ, foi abafada pelos divulgadores científicos. E é preciso deixar claro que não é uma denúncia sem base, viralizando no submundo da internet, publicada no site “patriotas alguma coisa”. Foi publicada na BMJ, uma das mais antigas e respeitadas revistas científicas do mundo.

Esta é parte do retrato do fracasso monumental da divulgação científica, algo supostamente especializado, onde há cursos preparatórios para quem se propõe ao trabalho, como mestrados oferecidos na área pela Fiocruz e pela Unicamp.

Recuso-me a acreditar que na primeira aula, algum professor entre na sala e diga: “trate todos como crianças e não se preocupe com as consequências disso”, ordem que parece ter sido seguida à risca.

E o custo? Foi alto. Eu, pessoalmente, não consigo lembrar, na história, de um fracasso maior.