O senhor é médico de que, pergunta a paciente? Como de que, interrogou o médico? Bem, médico do coração, do fígado, dos rins, dos pulmões, enfim, médico de que, insiste a paciente? Minha senhora eu sou médico de gente, sou médico que trata de pessoas, porém estou mais treinado, mais especializado em pneumologia, doenças que acometem os pulmões.

Médico tem que ter pelo menos duas especialidades. A primeira é de quem e não de que. É ser especialista em gente, gostar de gente, amar as pessoas, conhecê-las, e reconhecê-las como humano. Amar e conhecer precisam estar juntos porque só se ama o que se conhece.

Esta primeira e fundamental especialidade que é gostar de Gente começa bem cedo, muito antes do ingresso na faculdade de medicina. Começa em casa, na educação, valores e princípios, no relacionamento com pais, irmãos e familiares. Depois na escola com coleguinhas e professores, e, por fim, com a sociedade.

Esta primeira e fundamental especialidade, qual seja, especialista em Gente, talvez a pronúncia seja “Gentecista”, o estudante de medicina já deve trazer em seu cerne quando inicia o curso médico e a busca do conhecimento “tecnicista”, na faculdade de medicina, deve ser uma forma de poder executar este seu “dom humanista” com mais eficiência e qualidade.

O status e o dinheiro não podem nem devem fazer parte desta escolha, sob o grande risco de se frustrar expectativas pessoais, profissionais e sociais. A faculdade de medicina deve contemplar em sua grade curricular, além das tradicionais especialidades médicas, disciplinas que capacitem, ainda mais, este ser humano tão especial, não por ter escolhido a medicina, mas por ter sido escolhido por ela.

Este ser humano especial precisa, durante o curso médico, incorporar mais conhecimento e noções fundamentais em antropologia, filosofia, sociologia, psicologia, teologia, relacionamento humano, direito e administração, caso contrário, como oferecer ao estudante de medicina a necessária capacitação e treinamento para se relacionar com gente, pacientes e clientes.

O exercício da medicina frequentemente se depara com situações delicadas onde não basta ser especialista (tecnicista), é necessário ser duplamente especialista, e, principalmente, “Gentecista”. Para escolher a especialidade médica, o futuro médico, tem seis anos e mais a residência médica convivendo com as especialidades, pacientes e professores, mas para tornar o estudante especialista em Gente.

Com efeito, os atuais cursos de medicina, precisam avançar um pouco mais neste sentido. Para ser médico e praticar uma medicina de qualidade é necessária, em primeiro lugar, uma formação humanística, ampla, geral e irrestrita. Conhecer a fundo as várias dimensões da pessoa humana, para poder se relacionar em primeiro lugar, e, somente depois, diagnosticar e tratar.

Só depois o “Gentecista” poderá escolher a outra especialidade técnica, fruto da maior afinidade com a disciplina e então estará preparado para o futuro médico para ser especialista de quem e não de que. Médico de Gente. O mais importante na prática da medicina é a pessoa humana e isso não pode ser esquecido.

Nada pode ter mais valor do que o ser humano e, muito mais importante do que se ter a melhor técnica operatória ou o melhor equipamento para diagnóstico, tudo pode ser substituído, a única coisa que é absolutamente insubstituível é o natural, e natural é o ser humano. Assim e sempre, pelo menos, duas especialidades, e, uma delas, com certeza, “Gentecista”.

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