Escrito originalmente em inglês para o TrialSitenews.

A cena final de “Não olhe para cima”, quando todos estão na mesa de jantar aguardando o mundo acabar, tem tudo para se tornar memorável na história do cinema. Daqui para frente, é para estar em qualquer compilação de cenas inesquecíveis que se preze, junto com Gene Kelly e seu guarda-chuva em “Dançando na Chuva”, com o beijo de Humphrey Bogart e Ingrid Bergman em “Casablanca”, com os alunos subindo nas mesas em “Sociedade dos Poetas Mortos”, além de outras, como a cena da bicicleta decolando em “E.T.”.

Não que o filme seja uma obra prima. De modo definitivo, posso afirmar: não é um “Cidadão Kane”. Mas mesmo filmes ruins possuem cenas memoráveis, como a cena da argila entre Demi Moore e Patrick Swayze em “Ghost”. No caso, a cena da sala de jantar me tocou porque já me senti em uma mesa igual.

O começo da história de “Não olhe para cima”, lançamento da Netflix, é semelhante a todos os filmes de tragédias feitos por Hollywood: cientistas falando e sendo ignorados. Um resumo rápido de toda a história? Grandes corporações capturando e mandando em governos, sabotando soluções baratas por lucro, calando cientistas dissidentes e trazendo soluções caras que não funcionam.

Mas apesar do início do roteiro ser o mesmo de sempre, sem criatividade, houve um foco que deixou o filme interessante: mostrar como uma sociedade pode se tornar completamente anestesiada. Isso acontece quando as agências governamentais capturadas, grandes corporações e uma imprensa que se recusa a fazer seu trabalho resolvem todos tocar juntos na mesma orquestra.

No filme, o governo chega a criar um slogan: “Não olhe para cima”. Era o meteoro chegando, já visível, mas a ordem era para ninguém olhar. Era a verdade incontestável na frente de todos. A imensa maioria da população, sem senso crítico e acreditando nas instituições, obedeceu. Um ou outro olhou para cima, viu e concluiu: “estão mentindo para nós”. 

O slogan era uma resposta para a cientista que descobriu o cometa. Ela foi achincalhada em forma de memes e chamada de louca. Cansada de ser ignorada, ela convocou as pessoas para olharem para cima, para que cada um pudesse ver, com os próprios olhos, o cometa destruidor de planetas chegando.

Derrotados, na cena final, na mesa de jantar, estavam os cientistas que tentaram alertar a todos. Eles foram perseguidos, presos, censurados, ignorados e jogados para escanteio. O meteoro já havia impactado o oceano pacífico, perto do Chile. Era questão de minutos até tudo acabar. A energia elétrica já estava intermitente, dando o clima do que estava por vir. Alguns tremores de terra já ocorriam. Os cientistas conversavam sobre a vida esperando o armagedom. Eles nem ficaram curiosos em ir para as janelas para assistir o fim. O mundo lá fora estava sendo destruído. Não havia mais o que fazer.

Na mesma semana do lançamento do filme, houve uma audiência pública promovida pela Conitec – Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde, um órgão ligado ao Ministério da Saúde do Brasil. A Conitec faz recomendações de tratamentos ao sistema público de saúde brasileiro. E com recomendações positivas, medicamentos são disponibilizados gratuitamente nos hospitais públicos e postos de saúde, entidades voltadas principalmente ao atendimento do povo mais carente. 

Eu, assistindo a audiência, não pude deixar de fazer um paralelo entre o filme que havia acabado de assistir e os tempos atuais. No filme, notícias como o impacto de um cometa foram tratadas como curiosidades científicas em um programa de fofocas sobre celebridades. Na história, o fim do mundo foi exibido como algo para não prestar atenção ou levar a sério.

Na audiência pública, entrou um médico do nordeste do Brasil, Dr Anastácio Queiroz, infectologista e professor de medicina da UFC – Universidade Federal do Ceará.  Ele tinha algo importante a dizer, mas passou despercebido por todos. Dr Anastácio informou que tratou 700 pacientes COVID e não teve nenhum óbito. Zero. Ninguém morreu. 

No filme, a personagem interpretada por Jennifer Lawrence, Kate Dibiasky, a cientista que descobriu o cometa, explode de raiva no programa de televisão. Serviu apenas para ser rotulada como louca e ser transformada em meme na Internet. Dr Anastácio, com seus zero óbitos COVID, confrontando o que os outros diziam na audiência pública, perguntou: “será que eu estou ficando louco? Eu uso tudo que estão dizendo que não é para ser usado”. O vídeo teve pouco mais de míseras três mil visualizações.

Tratar 700 pacientes, não morrer ninguém – ou transformar óbitos em evento raríssimo – é comum entre os médicos os que tratam “com tudo que estão dizendo que não é para ser usado”, como diz Dr Queiroz. Nos EUA, Dr Brian Procter tratou 489 pacientes COVID e teve apenas um único óbito. Dr Brian Tyson e Dr George Fareed trataram 7 mil pacientes e não tiveram nenhuma perda. No filme, quando os cientistas foram presos, colocaram capuzes neles. Na vida real, o Dr Tyson teve sua conta no twitter suspensa.

Este é retrato sombrio da atualidade da vida real: todos os cientistas que trazem notícias boas sobre tratamentos são cancelados. Isso ocorreu até com o Nobel de Medicina Satoshi Omura. Ele teve seu vídeo no Youtube censurado. Omura falava de seu estudo com ivermectina contra a COVID.

Isso mesmo. Um Nobel de Medicina, não o médico da esquina, foi censurado ao falar de seu estudo revisado por pares e publicado no prestigiado periódico científico The Japanese Journal of Antibiotics. Dr Flavio Cadegiani, médico e cientista brasileiro, tratou 2500 pacientes sem nenhum óbito. No filme, cientistas são presos. Dr Flavio é acusado de crimes contra a humanidade pelo senado do Brasil. 

E esses números arrasadores se repetem em diversos lugares do mundo. Na África do Sul, Dr. Shankara Chetty tratou 8 mil pacientes com zero óbitos. Na verdade, todos os médicos que tratam chegam a resultados semelhantes. É a confirmação científica mais básica de todas, aquela que você aprendeu na escola quando era criança: quando reproduz o experimento e tem o mesmo resultado.

Mas voltando a cena na sala de jantar. Eu tive a oportunidade de me sentar em uma mesa com diversos médicos que tratam COVID. Placares de resultados? Duzentos pacientes e nenhum óbito. Trezentos e zero óbitos. Seiscentos, setecentos e apenas um, mil pacientes e nenhum óbito, outro com 1500 e apenas três óbitos. Isso é o normal.

Entre as raras mortes, algo em comum: pacientes que chegaram muito atrasados porque os comentaristas da televisão dizem, o tempo todo, sequestrando o prestígio da ciência, que tratamentos são comprovadamente ineficazes.

Nesta mesa, me senti na cena do filme. O mundo lá fora acabando com hospitais lotados, gente intubada sem conseguir respirar, enterros a todo vapor, e eles ali, com a receita de como acabar com a pandemia, ignorados, atacados, perseguidos e encapuzados. Fora daquela mesa, o povo permanece anestesiado. Nenhum repórter foi atrás do Dr Anastácio para amplificar sua voz, falar de seus resultados.

E não dá para noticiar mesmo. Com esses números, não há narrativa de falta de recomendações de tratamentos por burocratas que se sustente.  Não há posicionamento contra tratamentos por sociedades médicas que têm seus congressos patrocinados por fabricantes de vacinas que se mantenha em pé. Esses números são o cometa que ninguém deve olhar.

Mas há uma diferença. No filme, os cientistas morrem juntos com todos no fim. Na mesa que eu estava, todos médicos estavam tristes, mas tranquilos. Eles salvaram a si, seus pacientes, amigos e parentes. Entretanto, os semblantes de desânimo são os mesmos da película. Assim como no filme, enquanto o mundo desabava, os assuntos eram outros: sobre a vida, sobre qualquer coisa.

Ao mesmo tempo, no Brasil, numa completa inversão do roteiro, uma bióloga midiática se viu na personagem da cientista que descobre o cometa e fica com raiva na televisão. Apenas porque a bióloga pediu de maneira eloquente que todos usassem máscaras. Entretanto, ela não foi indiciada, difamada, perseguida, censurada ou encapuzada. Muito pelo contrário. Ela ganhou espaço nos jornais, em entrevistas e nos noticiários televisivos. Além disso, todos aderiram ao que ela pediu. Sua principal qualidade jornalística? Ser mera tradutora de decisões oficiais da OMS, que possui 50% de seu orçamento financiado por fabricantes de vacinas, e repetir, religiosamente, os posicionamentos da FDA, que também possui 50% de seu orçamento vindo das grandes indústrias. Além de acusar médicos que tratam COVID com medicamentos baratos, genéricos e sem patentes.

​​Ou seja, sem jamais questionar decisões oficiais, ela tem o papel de mídia no filme, não de cientista. Para alguém se auto-proclamar Dibiasky tem que, no mínimo, ter descoberto algo. Caso contrário, é pura pretensiosidade e delírio de grandeza.

No dia seguinte da audiência, na Folha de São Paulo, uma notícia pedindo para não olhar: “Ministério da Saúde dá espaço a defensores da cloroquina em audiência pública“.

Na audiência, o Dr Regis Andriolo, professor de Medicina Baseada em Evidências da Universidade do Pará, com longo histórico na medicina, inclusive fazendo revisões sistemáticas para a Cochrane, pediu recomendação de tratamento no sistema de saúde público mostrando uma meta-análise da hidroxicloroquina, onde os estudos ambulatoriais, precoce, tendem claramente em favor da HCQ. Na notícia da Folha, ele foi classificado como “profissional negacionista”. Simples assim.

“O dia que descobrirem que estou defendendo a ciência passarão vergonha. Em cinco ou dez anos”, comentou comigo Andriolo, para quase ninguém ouvir.

No fim das contas, uma única certeza: quase ninguém entendeu o filme.

Por Filipe Rafaeli (Fonte)

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