Agência FAPESP diz que “estudo confirma benefício da acupuntura auricular no tratamento da depressão”:

O estudo é esse aqui: Efficacy and Safety of Auricular Acupuncture for Depression

É randomizado e tanto os pacientes como os avaliadores eram cegos. O grupo tratado recebia acupuntura “nos pontos certos” e o controle em pontos arbitrários (quem aplicava não podia ser cego, é claro). O cegamento parece ter funcionado para os pacientes (tabela suplementar e13) e tomaram cuidado para garantir allocation concealment.

Foram randomizados apenas 37 pacientes por grupo e algumas análises foram baseadas em apenas 24 pacientes por grupo (por causa de perda de follow up e outras coisas). O poder é ridículo. Nada passou perto de dar estatisticamente significativo, exceto por um p=0.02 num desfecho secundário — um entre 6 desfechos reportados na Tabela 2. O protocolo pré-registrado lista 16 desfechos secundários:

Não sei porque a tabela no artigo reporta apenas 6. Como foram escolhidos esses 6? Um único p-valor 0.02 entre 6 desfechos significa muito pouco — e entre 17 significa nada.

Não entendo de mecanismos de ação, mas suspeito que a plausibilidade biológica a priori deva ser bem baixa.

A conclusão do jeito que está escrita no estudo tem aquele tom cuidadoso de artigo científico, mas acho que tem um tom bem mais positivo do que esses resultados mixurucos merecem. A manchete na revista FAPESP é simplesmente bizarra.

As evidências para as drogas proibidonas do tratamento precoce de Covid eram muito, mas muito mesmo melhores do que isso. Mas aí era fake news de negacionista.


Comentários do Facebook