Eu por mim não falaria mais desse assunto, mas dado que a mídia fala e que assessores de pessoas em posição de poder que supostamente seriam “especialistas” insistem em manter o assunto vivo, tenho que dizer algo.

Aqui estão os gráficos de internações e internações em UTI para a cidade de São Paulo (dados da prefeitura sobre hospitais municipais e dados do Seade sobre todos os hospitais) e também os gráficos de internações em Manaus.

A “nova onda” está indicada pela seta vermelha. A onda de casos provavelmente é grande. Não dá para ver isso nos dados oficiais porque agora pouco se testa e muitos que testam fazem autoteste e o resultado não fica registrado; mas dá para ver pelo número de casos entre os meus contatos que todo mundo está pegando.

A onda de casos graves, no entanto, é bem insignificante. Tenham em mente que esses gráficos de internações são bem enganosos porque quando os casos começam a aumentar muito as pessoas que estão no hospital por qualquer motivo testam positivo e isso vira “internação covid”. Os dados da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas são explícitos em distinguir “covid primário” de “covid secundário” (mais da metade é secundário) nos dados de internações, mas em São Paulo os dados não estão divididos assim. Atentem, no entanto, para os dados de UTI (onde estariam os casos realmente graves) em São Paulo.

Aqui alguns fatos relevantes para se ter em mente:

1 – não há previsão de que esse vírus um dia irá se extinguir, nem nas próximas décadas, nem nos próximos séculos; todo ano vai ter novas ondas, tipicamente durante a sazonalidade de doenças respiratórias (mas às vezes fora dela, como é o caso agora).

2 – O surgimento de novas ondas não tem nada a ver com a gente ter “relaxado” alguma medida de contenção ou com um certo número de pessoas não ter tomado doses de reforço – elas vem por causa de sazonalidade, de novas variantes mais transmissíveis ou mais hábeis em fugir da imunidade e com o decaimento natural da imunidade da população. Tanto a imunidade natural quanto a vacinal decaem com o tempo e também novas variantes tendem a ser mais eficazes em driblá-las (é por isso que elas são selecionadas e se espalham).

3 – As ondas não terminam porque alguém tomou alguma medida. Elas terminam porque isso é o que acontece naturalmente, de um jeito ou de outro – é um processo autolimitado, a própria onda vai renovando a imunidade da população até que a onda acaba. Qualquer medida tomada vai no máximo achatar um pouco a onda (onda um pouco mais comprida, com pico um pouco mais baixo).

4 – Achatar ondas era importante quando elas eram enormes e sobrecarregavam hospitais e havia até risco de colapso do sistema de saúde. Não é mais o caso agora. Também antes havia motivos para esperar – esperar por vacinas, por tratamentos – o que também não é o caso agora.

5 – Se você não viver num bunker isolado da sociedade você vai pegar covid várias vezes ao longo da sua vida, assim como você vai pegar vários resfriados. Tomar mais cuidado durante as ondas vai fazer você demorar (em média) mais tempo para pegar ou diminuir a probabilidade de pegar naquela onda. Mas vai ter novas ondas sempre e não dá para escapar sem mudanças muito radicais de estilo de vida para sempre. Nem está tão claro que é uma boa ideia ficar adiando isso, daqui a x anos pode aparecer uma variante pior e quem não pegou antes pode se sair pior do que quem pegou.

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