É preciso deixar claro uma questão fundamental, para que se possa fazer justiça. O novo trabalho dos colegas de Ann Harbor sobre a Proxalutamida não é apenas “mais um trabalho” positivo sobre o fármaco. Ele representa a continuidade sobre as pesquisas com os anti-androgênicos na COVID e confirma, de forma definitiva, os mecanismos de ação da classe. Estes incluem ação antiviral direta E potente ação anti-inflamatória, agindo fortemente em todas as fases da infecção pelo vírus. Por isso funcionou tão bem, tanto no tratamento precoce, quanto no manejo de pacientes gravemente doentes em nossos ensaios clínicos.
Se um sistema de saúde pudesse escolher um único fármaco para combater a pandemia, a proxalutamida seria, disparado, a melhor escolha. Nós sabíamos disso, por um motivo muito simples: fomos nós que demonstramos o fato. Os resultados foram tão impactantes, em um momento onde isto faria tanta diferença, que o fabricante se dispôs a dispensar a medicação no nosso país a preço baixíssimo e a indústria de genéricos cogitou fortemente produzi-la definitivamente em território nacional. Mas isto não era do interesse dos gigantes da big pharma.
Como perder a guerra, o pioneirismo e bilhões de dólares para uma teoria desenvolvida por um grupo de cientistas independentes que foi buscar uma molécula de uma pequena empresa obscura de biotecnologia? Isto causaria um impacto terrível para eles (ao menos em suas cabeças). Afinal de contas, daria a impressão de que ciência poderia ser feita por pesquisadores que não estivessem em suas folhas de pagamento. Assustados, lançaram mão de todos os recursos que dispunham para acabar com nosso trabalho: divulgadores científicos pagos por eles, diretamente ou por meio de banqueiros, médicos corruptos ou simplesmente invejosos, consórcio midiático comprado, políticos da pior estirpe, censuradores de redes sociais, meio jurídico aparelhado, politização de ações científicas, etc.
A continuação das publicações dos trabalhos sobre a proxalutamida, mostra, sobretudo, que estávamos certos. A sobrevivência da ideia anti-androgênica, com sua validação em duas grandes metanalises, mostra que o que iniciamos não pode mais ser apagado. Deixamos de salvar centenas de milhares de vidas pela não distribuição, ainda em 2021, do fármaco em território nacional. Ponto para os inimigos. Mas ninguém vai conseguir apagar o futuro brilhante do fármaco, seja na COVID, seja em outras indicações potenciais, como sepse e SARA. Mais do que isso, ao relembrarem de nossa história, jovens médicos e cientistas saberão que é possível fazer ciência tendo como foco o melhor interesse do ser humano e não o da indústria farmacêutica. Eu conto isso como vitória.
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