A evolução das mortes diárias totais e por diversas causas ao longo do tempo é o mais importante aspecto epidemiológico a se levar em conta quando se quer avaliar o status e as tendências da saúde da população. Isso é óbvio dado o fato de que o óbito é o mais importante desfecho de todos, não apenas por ser o que, geralmente, mais se quer evitar, mas também por refletir a incidência de doenças graves e de potenciais sequelas importantes, dado que estas aumentam a chance de morrer (ninguém morre de doença leve). Além disso, comparações entre os comportamentos temporais das mortes e o de intervenções diversas, tais como o isolamento social da população ou doses de vacina ministrados, permitem avaliar quais os efetivos impactos das medidas adotadas. Sem qualquer controvérsia, trata-se da melhor e mais objetiva forma de observar, no contexto da saúde, como se esteve, onde se está, para onde se está indo, o que foi feito e qual foi o resultado.
Pergunta-se, então: o que dizem os registros oficiais do Brasil acerca da evolução das mortes no país e sua eventual associação com a vacinação? Coseguiu-se o intento de mitigar os óbitos por meio das vacinas? Em que grau?
Os dados dos atestados de óbitos dos Cartórios de Registro Civil do Brasil (CRC) mostram as mortes ao longo do tempo no Brasil por dia e por tipo de causa [1], este último podendo ser dividido em quatro grandes categorias segundo critérios de semelhança médica e comportamento estatístico: Respiratórias, Infecciosas, Vasculares e Covid-19. Dados acerca da vacinação podem ser obtidos via Ministério da Saúde ou em múltiplos “vacinômetros” disponíveis online que acessam as fontes oficiais [2].
Ao se observar a progressão das mortes pelas grandes categorias de causas ao lado da progressão da quantidade diária de doses de reforço das vacinas contra Covid-19, observa-se uma relação curiosa entre as duas séries, conforme aponta a Figura 1.
Claramente, ocorreu no Brasil um pico de mortes por causas Respiratórias, Cardiovasculares e Infecciosas no período na segunda metade de janeiro de 2022, coincidindo muito proximamente com um pico na quantidade de doses de reforço ministradas no país como um todo. O fenômeno parece se repetir, em grau bastante menor tanto de doses quanto de mortes, no início de junho deste mesmo ano. Curiosamente, as mortes por Covid-19 parecem seguir padrão semelhante aos das demais causas de óbito e da vacinação, porém com mais ou menos uma semana de atraso.
Coincidentemente, um estudo recente abordando os dados da Alemanha [3] parece ter encontrado achado bastante semelhantes aos apresentados aqui ao relacionar as mortes em excesso (as quais se correlacionam fortemente com o total de mortes) e as doses de vacina contra Covid-19 ministradas como mostra a Figura 2.
Observa-se que os picos de vacinação se alinham com os picos de mortes.
Assim sendo, tudo se passa como se as vacinas, particularmente a partir da 2ª dose ou do reforço (as quais são mais frequentemente de mRNA), levassem a um aumento mais imediato das mortes por causas não associadas à Covid-19 por reações agudas (possivelmente inflamatórias, como no caso das miocardites) e a um aumento posterior das mortes por Covid-19 através de mecanismos mais tardios (concebivelmente por algo como doença amplificada por anticorpos). Ao menos isso explicaria o que se observa, embora outros elementos possam estar em jogo.
O que não se constata é qualquer padrão condizente com uma redução na quantidade de mortes em função da vacinação.
É forçoso concluir, portanto, que está empiricamente falseada a hipótese de que as vacinas contra Covid-19 no Brasil reduziram a quantidade de óbitos por ela. De fato, encontram-se indícios sugestivos de que talvez tais inoculações tenham aumentado a quantidade de mortes pela doença e até as mortes por outras casas, possivelmente devido a uma combinação de reações inflamatórias agudas imediatas com uma exacerbação da infecção uma semana depois.
Referências
[1] Portal da Transparência – Protal de Serviços – registro Civil – Especial Covid-19. Na Internet em:
https://transparencia.registrocivil.org.br/especial-covid
[2] Our World in Data – Brazil: Coronavirus Pandemic Country Profile. Na Internet em:
https://ourworldindata.org/coronavirus/country/brazil
[3] Kuhbandner C e Reitzner, M. (2022). Excess mortality in Germany 2020-2022. Researchgate, DOI: 10.13140/RG.2.2.27319.19365