Uma reportagem investigativa publicada na France Soir aborda que as sociedades médicas desempenham um papel crucial na promoção do conhecimento médico, na elaboração de diretrizes clínicas e na formação de profissionais de saúde. No entanto, essas instituições estão cada vez mais sendo criticadas por seus estreitos vínculos com a indústria farmacêutica, levantando questões sobre a imparcialidade de suas recomendações. 

A reportagem ressalta que a influência da indústria farmacêutica nessas recomendações é preocupante, pois pode levar à prescrição excessiva de medicamentos caros e potencialmente desnecessários, minimizar abordagens alternativas não farmacológicas e negligenciar os efeitos colaterais dos tratamentos.

Portanto, não foi surpreendente ver uma reação em massa contra o estudo retrospectivo em pré-print pelos professores Lagier, Brouqui, Million e Raoult do IHU Méditerranée Infection, que mostrou o impacto favorável na mortalidade relacionada à Covid-19 em mais de 30.000 pacientes com hidroxicloroquina e azitromicina.

Essa reação se manifestou na forma de uma carta aberta no jornal Le Monde, coordenada pelo professor Molimard do CHU de Bordeaux. Nos últimos 3 anos, ele se destacou na mídia como um opositor de todas as formas de tratamento da Covid-19. Suas críticas contundentes “nada funciona”, “as concentrações não são alcançadas”, não são embasadas em evidências científicas sólidas, ressalta a reportagem.

O banco de dados https://transparence.sante.gouv.fr, consultado através do site eurosfordocs.fr, que registrou o valor das vantagens recebidas da indústria farmacêutica. Os valores relatados são para as sociedades médicas signatárias da referida carta aberta, bem como para seus representantes individualmente nos últimos 4 anos. Os valores não incluem acordos em que os montantes não são divulgados.

O levantamento

  • Os representantes individuais receberam, em média, a considerável quantia de €152.000 nos últimos quatro anos. No topo da lista, o professor Leclerc e o professor Laharie receberam mais de €600.000 cada um.
  • Por outro lado, as sociedades médicas receberam em média mais de €1.400.000. As mais favorecidas, a Sociedade Francesa de Cardiologia e a Sociedade Nacional Francesa de Gastroenterologia, receberam, respectivamente, €6,4 milhões e €1,9 milhão.

A reportagem questiona: como esperar qualquer independência dessas organizações em relação aos interesses industriais, com tais conflitos de interesse? Como esperar que sua dependência e a influência dos interesses da indústria não sejam veiculadas no âmbito político e midiático, uma vez que essas sociedades médicas são os principais interlocutores das autoridades de saúde e da mídia? Por que os meios de comunicação, que ecoaram essa carta aberta unanimemente, não divulgaram essas quantias aos seus leitores e ouvintes?

A reportagem ressalta que é necessário tomar medidas para garantir a independência das sociedades médicas em relação à indústria farmacêutica. Afirma que isso é fundamental para a liberdade de prescrição dos médicos, a independência dos pesquisadores e a saúde pública. Os autores da reporagem convocam políticos, jornalistas, cidadãos, e especialmente médicos, afirmando que devem se envolver ativamente na implementação de medidas rigorosas para prevenir conflitos de interesse e garantir transparência nas atividades das sociedades médicas. 

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