No dia 4 de junho, o site do MPV – Médicos Pela Vida, publicou a seguinte notícia: Miocardite e pericardite ocorrem apenas em vacinados, revela estudo.

Dois dias depois, após a matéria viralizar, Vinicius Zagoto, repórter de A Gazeta e que afirma ser colaborador do Projeto Comprova, agência checadora de fatos, entrou em contato com a redação do MPV. 

Série 1 de afirmações do repórter:

“Há a afirmação de que o Ministério da Saúde desinforma ao dizer que quem recebeu a vacinação contra a covid-19 tem menos chances de desenvolver miocardite. O texto cita ainda que casos de miocardite foram registrados somente em crianças e adolescentes vacinados contra a covid-19. Mas a literatura científica publicada até o momento sugere o contrário e o post do Ministério da Saúde tem respaldo em pelo menos dois estudos revisados por pares, diferentemente do preprint citado no texto do Médicos Pela Vida. Queria um posicionamento de vocês a respeito disso.”, solicitou o repórter.

Respostas do MPV à série 1 de afirmações:

1 – Revisão por pares não vai mudar o resultado desse preprint. Revisão por pares não vai novamente no banco de dados do Serviço Nacional de Saúde (NHS) da Inglaterra, conferir os dados. E os dados encontrados pelos cientistas são claros: não foi constatado miocardite e pericardite em crianças e adolescentes não vacinadas, infectadas pelo vírus. Ou seja, a própria COVID-19 não causa miocardite e pericardite em crianças e adolescentes.

2 – O banco de dados do NHS é considerado o “padrão ouro” para estudos de saúde, devido ao rigor dos dados coletados e inseridos no banco.

3 – O estudo foi feito pelos mais renomados cientistas do Reino Unido, incluindo membros da Universidade de Oxford, o que atesta a qualidade das conclusões.

4 – Os dados deste estudo vão em encontro com outro estudo anterior, já revisado por pares, feito em Israel, também com um grande número de pacientes: The Incidence of Myocarditis and Pericarditis in Post COVID-19 Unvaccinated Patients—A Large Population-Based Study. “Não observamos aumento na incidência de pericardite nem de miocardite em pacientes adultos em recuperação de infecção por COVID-19”, concluíram os cientistas.

5 – Assim como os dados do NHS são considerados os mais precisos do mundo, os de Israel também são considerados, pela comunidade científica, de máxima qualidade. Ambos são referência. Reiteramos: COVID não causa miocardite e pericardite. Estes dois estudos, com grande quantidade de pacientes, falharam em demonstrar isso.

6 – Mais estudos rigorosos, como o da equipe de Vinay Prasad, da Universidade da Califórnia, publicado na BMJ ainda no final de 2022, demonstraram cabalmente que os riscos da vacina, em relação a miocardite e pericardite, superam os possíveis benefícios em jovens, que não são do grupo de risco da doença. Segundo o estudo, para prevenir uma hospitalização por COVID-19 ao longo de um período de seis meses, os pesquisadores estimaram que entre 31.207 e 42.836 adultos jovens com idades entre 18 e 29 anos precisariam receber uma terceira dose da vacina mRNA. No entanto, estima-se que as inoculações mandatórias de dose de reforço para jovens adultos poderiam ser mais danosas: para cada hospitalização por COVID-19 prevenida, os pesquisadores esperavam pelo menos 18,5 eventos adversos graves de vacinas mRNA, incluindo de 1,5 a 4,6 casos de miocardites ou pericardites associadas à dose de reforço em homens (que geralmente requerem hospitalização).

Série 2 de afirmações do repórter:

“No texto vocês afirmam que o Ministério da Saúde promoveu desinformação ao dizer que quem se vacina contra a covid-19 tem menos chances de ter miocardite. Mas a afirmação do Ministério é baseada em estudos recentes e que passaram por validação científica, já o texto do MPV tem como base um preprint que ainda não foi revisado pelos pares”, continuou.

Respostas do MPV à série 2 de afirmações:

1 – Há um erro conceitual básico na abordagem tanto do Ministério da Saúde como na checagem de fatos do projeto Comprova. Vamos supor que fosse verdade – o que não foi demonstrado nos estudos mais rigorosos – que a própria COVID causasse miocardite e pericardite. A questão é que não é excludente. Não há uma opção assim: “Prefiro então tomar a vacina, correr um risco de pericardite e miocardite da vacina, mas evito a miocardite e pericardite da COVID”. Não é excludente pelo simples fato de que as vacinas não impedem, e sequer reduzem, as chances de pegar a COVID-19 mesmo vacinado. Ou seja, no cenário proposto pelo Ministério da Saúde e pelo Comprova, onde os jovens e adolescentes podem ter miocardite e pericardite tanto pelas vacinas, como pela doença, esses jovens vacinados somam os dois riscos: de ter pela vacina e, logo em seguida, pela doença. Inclusive, os últimos dados consolidados da Cleveland Clinic já mostram que quanto mais doses as pessoas tomaram, maiores suas chances de contrair a doença. Ou seja, o excesso de vacinas sequenciais (alterando a classe de proteção para o IgG4) pode estar gerando tolerância do sistema imunológico, fazendo com que as pessoas tenham COVID-19 repetidamente. 

2 – Novamente, os resultados deste preprint (pré-impressão antes da publicação final do estudo) não serão alterados quando acontecer a publicação final. São diversos cientistas que conferiram os dados, e há destaque exatamente para isso: não houve miocardite e pericardite em não vacinados.

Série 3 de afirmações do repórter:

“Mas o próprio preprint afirma que os casos de miocardite foram raros e não houve mortes. Precisava de um posicionamento final de vocês. Vocês mantem o que está no texto e a afirmação contra o Ministério da Saúde?”.

Respostas do MPV à série 3 de afirmações:

1 – Sim, raros. E não houve mortes, nem entre os adolescentes e crianças não vacinadas, o que também ajuda a concluir o óbvio que crianças e adolescentes não são do grupo de risco, e portanto os países da europa estão certos em não oferecerem, muito menos obrigarem, vacinas para crianças saudáveis.

2 – Sim, mantemos nosso posicionamento. Há um erro conceitual na tese do Ministério da Saúde e que o Projeto Comprova deseja sustentar. Inclusive, não é a primeira vez que o Ministério da Saúde espalha desinformação.

3 – Diversos estudos que encontraram mais miocardite em não vacinados erram em dois pontos: (i) não separam os pacientes por faixa etária; (ii) usam dados de variantes antigas de covid que circulavam até 2021 e são muito diferentes das atuais.  

Posicionamento do MPV

O estudo é do Reino Unido, sólido, rigoroso e feito por pesquisadores de Oxford, além de outras entidades respeitadas. A COVID-19, segundo os estudos apontados, por si só, não causa miocardite ou pericardite em não vacinados. Estes dados, na interpretação correta, indicam que o governo do Reino Unido (assim como Dinamarca, Suécia, Alemanha, Suíça, entre outros) tomaram a decisão correta, após conhecerem esses dados, de sequer oferecer vacinas COVID-19 para crianças e adolescentes saudáveis, podendo existir apenas recomendações para uma ou outra exceção (crianças com imunidade fraca ou com comorbidades), e apenas após uma recomendação médica com receita. Em outras palavras, os pesquisadores descobriram que os riscos superam, em muito, os possíveis benefícios para a imensa maioria das crianças e adolescentes.

O MPV concorda com a posição dos governos do Reino Unido, Dinamarca, Suécia, Alemanha e Suíça, por isso defende a imediata interrupção da obrigatoriedade das vacinas em crianças brasileiras saudáveis, podendo até existir a recomendação, mas apenas depois de um exame rigoroso e apenas com receita e recomendação médica, com o médico sendo responsável.

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